sábado, 31 de outubro de 2009

Quando eu crescer

Publicado no Jornal do Comércio, Caderno Brasil, pag. 15, em 31.10.2009

Joca Souza Leão
jocasouzaleao@gmail.com

Quando eu crescer, quero saber das coisas como Roberto Pompeu de Toledo sabe. E quero escrever como Roberto Pompeu de Toledo escreve. Vou, claro, discordar - como já discordo - de algumas coisas que Roberto Pompeu escreve. Mas aí, a coisa vai ser de potência pra potência, como diria o escritor Renato Campos. Pompeu vai mandar de lá e eu vou rebater de cá.

Roberto Pompeu escrevia todas as semanas na última página da revista Veja. E eu era assinante da Veja. Agora, nem ele escreve todas as semanas nem eu sou mais assinante. Não deixei de assinar só por isso. Mas também.

Em minha opinião, a Veja virou antiLula contumaz. É Lula lá e a Veja lô, do outro lado, no outro extremo, com a carteirinha do PSDB, agitando a bandeira de Serra. Não que eu seja lulista. Não sou. Aliás, de carteirinha não sou rigorosamente nada. Mas, pra mim, a Veja perdeu o prumo, a isenção, a credibilidade. E daí, perdeu a minha modesta assinatura.

Roberto Civita, o dono da Veja, nasceu em Milão. Mas pensa e age como americano (até o português que ele fala tem sotaque de gringo). Viveu e estudou nos States. E lá é assim, jornais, revistas e TVs têm candidatos e partidos declarados. É só ver a briga de foice de Barack Obama com a Fox, o canal da direitona ultraconservadora republicana. Há quem ache melhor assim do que ter candidatos velados. Já eu prefiro algo como a Folha de S.Paulo. E este JC. Candidatos, os dois, certamente, têm. Mas se mantêm fiéis às regras básicas do bom jornalismo. Uma no cravo e outra na ferradura.

Cancelei a assinatura da Veja, mas leio. Quinzenalmente. Só na semana em que Roberto Pompeu escreve. Seguinte: meu barbeiro tem assinatura da Veja, como eu corto o cabelo de quinze em quinze dias, foi só ajustar o corte com a semana em que Pompeu escreve.

Não que Roberto Pompeu escreva algo que o patrão não aprove. Aliás, na Veja ninguém escreve nada contra o que Civita pensa (ao contrário dos Frias, da Folha, que cultivam o contraditório). Mas quando ele fala de política, paira acima do bem e do mal, fala de coisas e valores que ninguém pode ser contra.

Meu barbeiro, Telmo, fica no Centro. Há poucas semanas, fui até lá como sempre vou, andando. Cheguei como sempre chego, lavado de suor. Enxuguei-me com uma tolha, bebi dois copos d"água gelados, vesti o avental (ou que nome tenha aquele pano com mangas), sentei na cadeira do barbeiro e abri a Veja. Direto à última página: A arte de morrer. Roberto Pompeu de Toledo comenta uma crônica de Ruy Castro na Folha, na qual Ruy conta a história de um advogado que ia fazer uma palestra sobre Villa-Lobos e, quando ouviu os acordes da Floresta Amazônica, não resistiu, segurou a mão da mulher e morreu.

Roberto Pompeu compara a morte do Dr. Henrique Gandelman, o advogado, à morte de um personagem de Proust, o escritor Bergotte, diante de um quadro de Vermeer. "Como Bergotte, Gandelman morreu sob o impacto de uma emoção estética (...), diante de uma das obras prediletas, do artista predileto." Diz Ruy Castro: "a morte ideal."

Já não se faz mais santos como antigamente, que "morriam com antevisões do paraíso", nos lembra Pompeu. Santa Tereza de Ávila: "Chegou enfim a hora, Senhor, de nos vermos face a face." São Francisco: "Seja bem-vinda, irmã morte." São João da Cruz (depois que lhe leram o Cântico dos Cânticos): "Senhor, minha alma está em suas mãos."

Antes deles, dos santos, "Sócrates morreu despedindo-se dos amigos e filosofando sobre a morte. Para os gregos era a morte ideal. Em nosso tempo, um valor altamente apreciado é a morte que nos poupe da angústia, ou do susto, ou do pânico, de saber que se está morrendo."

Quando chegar a hora, vou fazer como o poeta Carlos Drummond de Andrade fez: vou pedir ao meu cardiologista, José Maria Pereira Gomes, que me "receite um infarto fulminante."

P.S.- Esta crônica é uma modesta homenagem ao meu amigo Hélio de Albuquerque Mota, fulminado por um infarto no dia 16 de outubro último, na Praia de Gamela, em Sirinhaém. Não era santo. Nem filósofo. Era poeta, como Drummond.

» Joca Souza Leão é publicitário e cronista

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Escolhas... Sempre escolhas!

Seg, 26 Out, 08h07
Sandra Maia*/Especial para BR Press
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(BR Press) - Esta semana, conversando com um amigo, percebemos o quanto deixamos de
lado nossos sonhos. Por vezes por causas nobres; por outras, por questões que, bem,
poderiam ser postergadas em prol dos nossos objetivos.
E por que o tema? A questão é: quando haverá tempo para que possamos verdadeiramente
existir - dentro ou fora da relação? Porque nos permitimos encolher, emburrecer,
deixar de ser?
Isso! Estou falando do mais básico - da razão fundamental - de estarmos aqui:
Existir. Ser. Acontecer...
E, se o tempo passa, com ele passa também a vida e tudo o que fazemos ou não fazemos
- até mesmo a mistura que criamos quando incorporamos o que não é nosso, deixamos de
estar presentes... (e isso pode ser tudo ou nada... aquele mau humor que não nos
pertence, aquela tristeza que não é nossa, aquela vontade de morrer que não
compartilhamos etc, etc...).
Outras esferas
E tem mais: se nos comportamos dessa maneira na relação amorosa, deixamo-nos também
contaminar nas relações familiares, naquele grupo de amigos, na organização, no
clube, de qualquer segmento que nos destaca do todo.
E então vamos passar a viver só! Não vamos mais participar de qualquer grupo social,
profissional ou familiar???? Não! A questão, lembre-se, é: Como continuar a existir
dentro ou fora da relação?
Conjunto
Somos, afinal, especiais enquanto pertencemos... E, nesse sentido, contribuímos para
que o outro, a organização, o grupo como um todo tenha alma, visão, missão... Tenha
um motivo de existência. Participamos da construção de diferentes sonhos e isso
também nos faz melhor.
Ajudamos nossos companheiros, familiares, amigos ou empregadores a construir seus
sonhos. Interferimos na construção da sua missão do significado de sua existência.
Viabilizamos a visão, ou seja, tudo o que é possível. Absorvemos seus valores ou
melhor, nos identificamos ou até mesmo nos associamos a estes e dessa forma, tocamos
nosso dia-a-dia.
No centro dos sonhos.
Às vezes mais perto, às vezes milhas e milhas distantes do nosso centro... E, se é
assim com todos, por que para alguns é mais fácil manter-se no eixo, na essência, no
ser? Por que alguns respondem melhor a questão acima?
Realmente, acredito que não seja fácil para ninguém manter-se no centro, em si
mesmo, no sonho. Os atalhos estão aí e, sem perceber, escolhemos um ou outro ao
longo da vida. E estes, com certeza, nos tiram do foco. E não só os atalhos nos
distraem - nos deparamos com situações todo o tempo, com algo que gostamos muito -
um jardim, uma flor, uma relação, um novo emprego etc., etc... Ou que não gostamos -
um dia de chuva, um carro quebrado, um atraso, um desencontro, etc, etc...
E, como Alice no País das Maravilhas, ora tomamos uma ou outra direção - nos
esquivamos, paralisamos ou vamos em frente e, sem perceber ou compreender bem,
deixamos de saber para onde estamos indo. Onde de fato queremos chegar. O que
queremos ser - qual era mesmo o sonho?
E, então, para aqueles todos que não sabem onde estão, para onde vão ou onde querem
chegar, o problema é: não há qualquer possibilidade de reencontrar-se, a não ser com
forte trabalho de autoconhecimento, meditação, autotransformação. Tudo o que nos
remete para dentro, para o que conta, para o que viemos... Escolhas... Sempre
escolhas!
http://br.noticias.yahoo.com/s/26102009/11/entretenimento-relacionamentos-espaco-so.html

domingo, 25 de outubro de 2009

Barreiros, cidade afetiva

A matriarca da família, Ruth Marinho, foi uma das colaboradoras citadas pelo autor.
Sua foto é a 4ª da direita para a esquerda na fileira de baixo.
Clique na imagem para ampliar.

sábado, 24 de outubro de 2009

Manifesto internacional pró-MST‏

Publicado no Jornal do Comércio do Recife - Caderno Brasil - Pag. 16, em 24.10.2009.
http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/10/24/can_8.php


Intelectuais do Brasil e do exterior se posicionaram contra investigação de supostas irregularidades no repasse de verbas para entidades ligadas ao grupo.

SÃO PAULO – Intelectuais do Brasil e do exterior divulgaram ontem um manifesto em defesa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e contra a CPI mista criada esta semana para investigar supostas irregularidades no repasse de verbas públicas para a entidades ligadas ao grupo.
De acordo com o documento, está em curso no Brasil “um grande operativo político das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro”.

Entre os signatários do manifesto aparecem os escritores Eduardo Galeano, do Uruguai, e Luiz Fernando Veríssimo. Também estão na lista o crítico literário e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Antonio Candido, o cientista político Chico de Oliveira e o filósofo Paulo Arantes.

Até o fim da tarde de ontem, cerca de 100 pessoas já haviam assinado o documento, que circula por diversos países. Em Portugal, ele ganhou a adesão do sociólogo Boaventura de Souza Santos, um dos ideólogos do Fórum Social Mundial.

O manifesto critica a cobertura dada pela mídia à destruição de um laranjal da empresa Cutrale por militantes do MST, semanas atrás, no interior de São Paulo. “A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de pés de laranja como ato de vandalismo. Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a titularidade das terras é contestada pelo Incra e pela Justiça”, diz o texto.

“Na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários, desejando produzir alimentos”, acrescenta. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou “vandalismo” a ação dos sem-terra.

Segundo o sociólogo Ricardo Antunes, da Unicamp, um dos signatários do documento, o MST é respeitado internacionalmente como um dos movimentos sociais mais importantes do mundo. “É inaceitável a iniciativa de criminalizá-lo e empurrá-lo para a clandestinidade”, criticou. “É inaceitável também que este Congresso, que chegou ao fundo do poço e cujo presidente tenta cercear o trabalho da imprensa, impedindo a divulgação de informações sobre sua família, se julgue no direito de policiar e tentar sufocar o movimento”, completou.

O texto endossa a tese defendida pela liderança do MST de que o principal objetivo da CPI é tirar do foco o debate sobre a revisão dos índices de produtividade no País, que estão em vigor desde 1975.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O ponto de saturação

www.cartamaior.com.br
21 de outubro de 2009.


Ataques ao governo Lula fazem parte da paisagem jornalística brasileira. Tornaram-se previsíveis como os acidentes geográficos; irremediáveis como o dia e a noite. Naturalizaram-se, a tal ponto que já se lê os jornais pulando essas ocorrências, como os olhos ignoram trechos vulgares de caminhos rotineiros. O que mais espanta, porém – e a cobertura da viagem do São Francisco reforça esse desconcerto - não é a crítica , mas o tom desrespeitoso desse jornalismo. Com a aproximação das eleições de 2010, ansiedade pelo fracasso recrudesceu. A tal ponto ela se tornou caricatural que já aparecem os primeiros sintomas de saturação. O artigo é de Saul Leblon.

Saul Leblon

“Alojamento de Lula tem risoto, uísque e roda de viola até a madrugada.” Sob esse título auto-explicativo, a Folha [edição de 16-10] resumiu em uma retranca o espírito da cobertura oferecida aos seus leitores durante a viagem de três dias feita pelo Presidente Lula às obras de interligação de bacias do rio São Francisco, uma das mais importantes do seu governo.

O propósito de diminuir e tratar o assunto com escárnio e frivolidade se reafirmou em legendas de primeira página ao longo da visita. No dia 15-10, o jornal carimbava uma foto de Lula e da ministra Dilma Rousseff pescando no São Francisco, em Buritizeiro (MG), com a chamada: 'Conversa de Pescadores' . A associação entre a legenda e o discurso da oposição, para quem as obras são fictícias e a viagem, eleitoreira, sintetiza o engajamento de um jornalismo que já não se preocupa mais em simular isenção.

No dia 17, de novo na primeira página , o jornal estampa a foto do Presidente atravessando o concreto ainda fresco sobre a legenda colegial: ‘A ponte do rio que caiu’. A imagem de Lula equilibrando-se em tábuas improvisadas inoculava no leitor a versão martelada em toda a cobertura: trata-se de uma construção improvisada, feita a toque de caixa, com objetivo apenas eleitoreiro. É enfadonho dizê-lo, mas o próprio jornal se contradiz ao entrevistar Dom Luis Cappio, o bispo de Barra (BA), um crítico ferrenho da obra. Segundo afirmou o religioso ao jornal, ‘as obras avançam como um tsunami’. Sua crítica recai no que afirma ser a ‘marolinha’ das medidas - indispensáveis - de recuperação ambiental do rio. Diga-se a favor do governo que estas, naturalmente, serão de implementação mais lenta, na verdade talvez exijam um programa permanente.

Como o próprio bispo de Barra esclarece, não se trata apenas de promover o saneamento de esgotos e dejetos nas cidades ribeirinhas, como já vem sendo feito, ineditamente, talvez, na história dos rios brasileiros de abrangência interestadual. O resgate efeitvo do São Francisco passa também pela recuperação das matas ciliares, prevista nas obras, mas remete igualmente à recuperação de toda a ecologia à montante e para além dos beiradões, inclusive as veredas distantes onde estão nascentes, olhos d’água, lagoas de reprodução destruídos pela rapinagem madereira e carvoeira. Só quem acredita em milagres pode exigir, como faz Dom Cáppio, que um único governo reverta essa espiral de cinco séculos de omissão pública da parte, inclusive, daqueles que demagogicamente criticam as obras hoje como ‘uma ameaça ao velho Chico’.

O único acesso que a família Frias ofereceu aos leitores para que pudessem avaliar a verdadeira dimensão da obra ficou escondido na página interna da edição do dia 17, na belíssima foto que ilustra a página 12. Ali, um Lula solitário caminha por um gigantesco canal de concreto que rompe o horizonte até lamber o céu sertanejo. Há um simbolismo incontornável na imagem de um Presidente que se despede diluindo-se em uma obra gigantesca. Ela consagra seu retorno à terra de onde partiu como retirante e para onde voltou, Presidente, levando água a quem não tem - compromissos mantidos, apesar de tudo.

A solenidade da foto contrasta com o tom de adolescência abusada da cobertura, o que impediria o jornal de utilizar a imagem na primeira página, embora do ponto de vista estético e jornalístico ela fosse muito superior à escolhida. Tanto que o editor da página 12 não se conteve e abriu cinco colunas para a fotografia.

Ataques ao governo Lula fazem parte da paisagem jornalística brasileira. Tornaram-se previsíveis como os acidentes geográficos; irremediáveis como o dia e a noite. Naturalizaram-se, a tal ponto que já se lê os jornais pulando essas ocorrências, como os olhos ignoram trechos vulgares de caminhos rotineiros.

O que mais espanta, porém – e a cobertura da viagem do São Francisco reforça esse desconcerto - não é a crítica , mas o tom desrespeitoso desse jornalismo. Nesse aspecto não houve rigorosamente qualquer evolução após seis anos em que todos os preconceitos contra Lula foram desmoralizados na prática. A retomada do crescimento com inflação baixa e maior equidade social, por exemplo, distingue seu governo positivamente da paz salazarista imposta pela ortodoxia tucana no segundo mandato de FHC. A popularidade internacional do chefe de Estado brasileiro constitui outro fato sem precedente, só suplantado, talvez, pela velocidade da recuperação da nossa economia em meio à maior crise do capitalismo desde 1930. Tudo desautoriza as previsões catastróficas das viúvas provincianas do tucano poliglota.

Mas se a realidade desmentiu o preconceito, em nenhum momento a mídia conservadora deu trégua a um indisfarçável desejo de vingança que pudesse comprovar a pertinência de uma rejeição de classe ao governo Lula . Com a aproximação das eleições de 2010, a ansiedade pelo fracasso recrudesceu. A tal ponto ela se tornou caricatural que já aparecem os primeiros sintomas de saturação.

Em artigo publicado no Estadão [19-10] o físico José Goldemberg, por exemplo, um quadro de extração tucana, saiu em defesa da construção de hidrelétricas pelo governo Lula, objeto de críticas estridentes de um jornalismo que prefere esquecer a origem do apagão em 2001/2002. Na área da saúde, o respeitado cardiologista Adib Jatene, que já foi secretário de Paulo Maluf mas supera qualquer viés político pela inegável competência científica e discernimento público, tem vindo a campo com freqüência defender a necessidade de um novo imposto, capaz de mitigar o estrago causado à saúde pública pela revogação da CPF. Mais uma ‘obra coletiva’ assinada pela mídia e a coalizão demotucana.

O economista Luiz Carlos Bresser Pereira, do staff serrista, foi outro a manifestar seu desagrado com o estado das coisas. Bresser, que já defendeu abertamente o projeto de Lula para o pré-sal, rechaçou a demonização do MST articulada pela mídia e ruralistas, por conta da derrubada de laranjeiras em terras públicas ocupadas pela Cutrale [artigo na Folha 19-10]. Pode ser apenas miragem do horário de verão, mas o que essas manifestações parecem indicar é uma rebelião da inteligência –ainda que avessa ao PT - contra a a idiotização da agenda nacional promovida pelo jornalismo demotucano.

A patogenia infelizmente não é privilégio brasileiro. Na Argentina, o cerco da grande imprensa ao governo Cristina Kirchner recorre a expedientes idênticos de mentiras, fogo e fel . Com Morales, na Bolívia, não tem sido diferente. Na Venezuela, há tempos, o aparato midiático tornou-se paradigma de um engajamento que atravessou o Rubicão do golpismo impresso para se incorporar fisicamente à quartelada que quase derrubou Chávez em 2002 . Enganam-se os que enxergam aí também a evidência de uma fragilidade congênita à democracia latinoamericana. Acima do Equador as coisas não vão melhores. O democrata Barack Obama é vítima de um cerco raivoso e racista de jornais e redes, como é o caso da Fox, do direitista Rupert Murdoch que detém também o Wall Street Journal.

A repetição e o alcance dos mesmos métodos e argumentos nas mais diferentes latitudes parece indicar que estamos diante de um fenômeno de recorte histórico mais geral. O fato é que o conservadorismo está acuado em diferentes fronteiras após o esfarelamento econômico e político do credo neoliberal. A falência dos mercados financeiros desregulados na maior crise do capitalismo desde 1930 já é reconhecida, à direita e à esquerda, como um novo divisor histórico. Corroído em seus alicerces de legitimidade pela falência de empresas, famílias e bancos, ademais do recrudescimento do desemprego e da insegurança alimentar - inclusive nas sociedades mais ricas - o conservadorismo vê sua base social derreter. A radicalização do seu ‘braço midiático’ soa como uma tentativa derradeira de reverter o processo ainda nos marcos da democracia, desqualificando o adversário mais próximos formado por partidos e governos progressistas. A radicalização é proporcional à ausência de um projeto conservador alternativo a oferecer à sociedade.

Abre-se assim uma etapa de absoluta transparência, uma radicalização aberta; um embate bruto de forças em que a mídia dominante não tem mais espaço para esconder os interesses que representa. Tampouco parece ter pejo em descartar uma neutralidade – que, diga-se, a rigor nunca existiu - mas da qual sempre se avocou guardiã para descartar a democratização efetiva dos meios de comunicação. A isenção parece, enfim, não representar mais um valor passível sequer de ser simulado.

A diferença entre o que acontece no caso brasileiro e o resto do mundo é o grau de envolvimento do governo na reação em sentido contrário a essa ofensiva. A liberdade de informação e o contraditório aqui respiram cada vez mais por uma rede de blogs e sites de gradiente ideológico amplo, qualidade crescente e capacidade analítica incontestável. Mas ainda de alcance restrito. O protagonismo do governo e o dos partidos e sindicatos que poderiam ir além na abrangência de massa, é tíbio. Na Venezuela não é assim. Na Bolívia – que acaba de criar um grande jornal diário de recorte progressista-- não está sendo. Na Argentina onde foi votada uma lei de comunicação que desmonta a estrutura monopolista do conservadorismo midiático, caminha-se também sobre pernas da urgência. Acima da linha do Equador a contundência das respostas oficiais destoa igualmente do acanhamento brasileiro. Na verdade, talvez a caracterização mais dura da decadência dos princípios liberais na mídia tenha partido justamente dos porta-vozes do governo Obama, Anita Dunn, Diretora de Comunicações do Presidente e David Axelrod,principal assessor de comunicação do democrata.

"A rede Fox está em guerra contra Barack Obama (...) não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o presidente fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição", resumiu recentemente a atilada Diretora de Comunicações da Casa Branca. Numa escalada de entrevistas e disparos cuidadosamente arquitetados, Dunn e Axelrod falaram alternadamente a diferentes segmentos midiáticos de todo o país. E o fizeram com o mesmo propósito de colocar o dedo numa ferida chamada Rupert Murdoch. "Mr. Rupert Murdoch tem talento para fazer dinheiro, e eu entendo que sua programação é voltada a fazer dinheiro. Só o que argumentamos é que [seus veículos] não são um canal de notícias de verdade. Não só os âncoras, mas a programação toda. Não é notícia de verdade, mas é a pregação de um ponto de vista. E nós vamos tratá-los assim ", bateu Axelrod em seguida ao ataque de Anita Dunn.

O guarda-chuva dos ataques a Obama têm como alvo o projeto de reforma do sistema de saúde, que, entre outras medidas, quer colocar sob responsabilidade do Estado cerca de 50 milhões de norte-americanos hoje ao desabrigo de qualquer cobertura.

A defesa do livre mercado na saúde é só a ponta do iceberg do ataque midiático. Por trás desse biombo o que se move é uma engrenagem endogâmica em que se entrelaçam o fanatismo e o dinheiro da direita republicana, postados dentro e fora da mídia. Sua meta é clara: desconstruir e imobilizar o sucessor de George W. Bush. Não há muita diferença entre o que se passa nos EUA e a divisão de trabalho observada no Brasil, onde as rádios chutam o governo Lula abaixo da linha da cintura; os jornalões desgastam e denunciam, enquanto a Globo faz a edição final no JN, transformando o boa noite diário da dupla Bonner & Fátima uma espécie de ‘meus pêsames, brasileiros pelo governo que escolheram; não repitam isso em 2010’.

No caso dos EUA, um país visceralmente conservador e racista não há , a rigor, grande surpresa pelos ataques da Fox & Cia a um Presidente negro e democrata. O que surpreende, de fato, é que Obama está reagindo. E o faz com um grau de contundência que, oxalá, sirva de inspiração para que um dia também possamos ouvir nos trópicos um porta-voz do Presidente Lula dizer com igual limpidez e serenidade, sem raiva, mas pedagogicamente: "A Folha está em guerra contra Lula(...) não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o Presidente fala à Folha já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O Presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição."

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A mídia como partido político

CASA BRANCA vs. FOX

Por Venício A. de Lima em 14/10/2009
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=559IMQ007

O jornalista Luiz Carlos Azenha transcreve em seu blog "Vi o Mundo" matéria publicada no The Nation no domingo (11/10) [http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=559IMQ007] repercutindo entrevista que a diretora de Comunicações da Casa Branca, Annita Dunn, concedeu à rede de televisão CNN e também declarações feitas a repórteres do The New York Times, nas quais ela afirma:

"A rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano" (...) "não precisamos fingir que [a Fox] seria empresa comercial de comunicações do mesmo tipo que a CNN."

"A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico."

E disse mais:

"Quando o presidente [Barack Obama] fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição."

Em matéria sobre o mesmo tema publicada na revista Time [http://www.time.com/time/politics/article/0,8599,1929058,00.html] e também reproduzida no site do Azenha [http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/time-a-casa-branca-enfrenta-a-midia/], Michael Scherer escreve:

"Em vez de facilitar a vida dos jornalistas, oferecendo-lhes fatos que os jornais e jornalistas usam em seguida como se fossem `prova´ do que escreveriam contra Obama, mesmo sem qualquer verificação ou sem qualquer prova, a Casa Branca decidiu entrar no jogo e criticar mordazmente o jornalismo de futricas, os políticos e os veículos que vivem de publicar bobagens, ou mentiras, ou invenções completamente nascidas das cabeças dos `jornalistas´(...)."

O que há de novo?

A rede de televisão Fox, como se sabe, faz parte da News Corporation de Rudolph Murdoch. Há quase cinco anos escrevi, aqui mesmo no Observatório:

"O comportamento conservador dos veículos do grupo News Corporation – um dos maiores conglomerados de mídia do planeta, controlado pelo magnata Rupert Murdoch – não é novidade para quem acompanha as análises sobre o jornalismo contemporâneo.

Recentemente foi lançado nos EUA um documentário intitulado Outfoxed: Rupert Murdoch´s War on Journalism, produzido e dirigido por Robert Greenwald. Baseado numa análise de vários meses dos noticiários da Fox – que já superou a CNN em termos de audiência – e em depoimentos de produtores, repórteres e escritores que trabalharam na emissora, Greenwald demonstra como a Fox tem servido de porta-voz dos grupos radicais de direita através da rotinização de procedimentos de propaganda e controle interno do seu jornalismo" [http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=301IPB001].

O que constitui novidade, portanto, não é a posição da Fox. A novidade é a atitude do governo Barack Obama de enfrentar publicamente a Fox e nomeá-la com todas as letras pelo papel que realmente vem desempenhando, isto é, o papel de um partido político de oposição.

Mídia como partido político

Creio ter sido Antonio Gramsci (1891-1937), referindo-se à imprensa italiana do início do século 20, quem primeiro chamou a atenção para o fato de que os jornais se transformaram nos verdadeiros partidos políticos. Muitos anos depois, Octavio Ianni (1926-2004) cognominou a mídia de "o Príncipe eletrônico".

Na Ciência Política contemporânea, apesar de toda a resistência em problematizar "a construção coletiva das preferências" no debate teórico sobre a democracia, creio que já se admite que a mídia venha, historicamente, substituindo os partidos políticos em algumas de suas funções tradicionais como, por exemplo, construir a agenda pública (agendamento); gerar e transmitir informações políticas; fiscalizar as ações de governo; exercer a crítica das políticas públicas e canalizar as demandas da população.

No momento em que governos, em princípio democráticos, sobretudo na América Latina, propõem o debate (caso da Conferência Nacional de Comunicação, no Brasil) ou a regulação dentro das regras do Estado de Direito (caso da Argentina, do Equador, da Bolívia), ou enfrentam diretamente os grupos privados de mídia criando alternativas estatais e públicas (caso da Venezuela), o exemplo dos EUA significa um importante precedente.

Os grandes grupos privados de mídia – como a News Corporation, de Murdoch – seus sócios e aliados em todo o planeta, por óbvio, vão continuar reiterando cotidianamente suas acusações de não democráticos, autoritários e/ou totalitários a esses governos.

Já não seria, todavia, a hora de se questionar – séria e responsavelmente – o discurso de que a grande mídia privada seria a mediadora neutra, desinteressada, imparcial e objetiva do interesse público nas sociedades democráticas? Como sustentar esse discurso diante de todas as evidencias em contrário, inclusive de partidarização, aqui e alhures?

Não avançaríamos no debate democrático se a grande mídia assumisse publicamente suas posições e reconhecesse que, sim, além dos editoriais, dos artigos e das colunas, a cobertura que faz – ou a ausência dela – é também opinativa e, às vezes, partidária?

A posição pública do governo Barack Obama em relação à rede de televisão Fox obriga, necessariamente, a uma reflexão sobre o papel da grande mídia nas democracias representativas. Inclusive, é claro, no Brasil.

Ou os Estados Unidos serão também incluídos, a partir de agora, na relação dos governos que a grande mídia considera não democráticos, autoritários e/ou totalitários?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Desenvolvimento X Preservação

O progresso sem limites está destruindo o planeta.
Talvez o ideal fosse voltarmos ao tempo do descobrimento e andarmos nus em harmonia com a natureza.
Não estou querendo ser sarcástico, estou apenas tentando refletir até onde o progresso é um benefício para a humanidade e onde ele começa a ser prejudicial.
É inegável que temos uma qualidade de vida material superior à dos nossos antepassados, mas que preço estamos pagando por isso?
Não tenho a fé que outros têm em coisas transcendentais, eu me oriento pelo que vejo e pelo que apresenta evidências claras para mim.
Muitas coisas são superiores à minha capacidade de compreensão, então procuro seguir a opinião de pessoas que pesquisaram a fundo o assunto e apresentam conclusões que não contrariam o raciocínio lógico elementar.

É o caso do dilema "Desenvolvimento X Preservação".

Está mais do que provado que o desenvolvimento a qualquer custo não é benéfico, mas também freiar o desenvolvimento por causa de um ou outro dano ambiental talvez não seja um boa política também.

Vi no Jornal da BAND outro dia que a construção de uma estrada no Rio de Janeiro foi paralisada por 7 meses por ser a época de reprodução de uma espécie de sapo existente na região. Sapo que, quando adulto, tem o tamanho de 2cm e cabe na palma da mão. A abertura de dois túneis para duplicar uma rodovia no Paraná está paralisada há 5 anos por causa de uma colônia de papagaios existente na área e as explosões para abertura dos túneis iria perturbá-los. Outra rodovia em São Paulo está com as obras de construção paradas há 15 anos por causa de outra espécie de sapo.

Minha filha Renata, bióloga e engenheira ambiental concorda que os sapos são importantes, pois comem mosquitos e outros insetos e servem de alimento para as cobras. Sem os sapos nossas casas seriam invadidas por cobras, mosquitos e insetos. Mas ela acha que o governo poderia pagar biólogos para mudar os sapos e os papagaios de lugar sem prejudicar muito o andamento das obras.

Não adianta sacrificarmos o nosso desenvolvimento para poupar o meio ambiente enquanto o resto do mundo não faz o mesmo. Se não nos desenvolvermos e aumentarmos a nossa capacidade de defesa, em breve os outros países virão em busca de nossos recursos naturais, água, petróleo, madeira, etc. Ou todos os países freiam o desenvolvimento para poupar o meio ambiente ou sucumbiremos todos juntos.

Devemos sonhar com um mundo perfeito, mas com os pés no chão. Não vamos esperar que um iluminado chegue à presidência e resolva todos os nossos problemas da noite para o dia. Os avanços não acontecem na velocidade que gostaríamos e algumas vezes temos que recuar para acumular forças para avançar mais.

Para mim o presidente Lula está trilhando caminho possível, com avanços e recuos, erros e acertos, mas seguindo sempre na direção do desenvolvimento com distribuição de renda.
Por isso ele é considerado "o cara" por Barak Obama e o político "mais admirado do mundo" pela revista "Newsweek".
Como ainda não estou convencido de que a relação custo/benefício do desenvolvimento com danos ambientais é mais prejudicial ao país do que a diminuição do rítmo de desenvolvimento, eu continuo apoiando Lula e procurando divulgar as grandes obras que ele está viabilizando para garantir o nosso desenvolvimento.
É uma satisfação para mim trocar idéias com pessoas com a mente aberta para debater questões que estejam ao alcance da nossa limitada quantidade de informações e conhecimentos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A rede de Deus

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Esta tabela copiei da revista "CartaCapital" n° 567 de 14 de outubro de 2009, o texto é da minha autoria.
Ricardo.,


Se padres, pastores, rabinos etc, querem salvar almas, que arrumem um emprego e preguem suas crenças nas horas de folga como fazem aqueles que se dedicam a trabalhos voluntários sem nenhuma remuneração e não ficar pedindo dinheiro aos fiéis para construir e manter templos luxuosos, vivendo na ociosidade e retribuindo com obras assistenciais insignificantes diante do volume de recursos que arrecadam.
A igreja católica e outras religiões possuem emissoras de rádio e canais de televisão fazendo pregações 24 horas por dia.
Organizações de esquerda não conseguem concessões para operar canais de TV, mas organizações de direita e igrejas conseguem com a maior facilidade.
As igrejas arrecadam bilhões de reais por ano dos fiéis prometendo riqueza e felicidade no céu e na terra. Mostram "curas milagrosas", fazem exorcismo e pregações contra o aborto, o homossexualismo, o divórcio, etc.
Estou muito preocupado com a expansão das seitas religiosas no Brasil. Elas estão conseguindo eleger deputados e senadores. Tenho medo que eles se tornem maioria no congresso e modifiquem a constituição, revogando leis progressistas e aprovando leis retrógradas. Podem até querer substituir a Constituição pela Bíblia, como querem fazer nos países islâmicos e já acontece no Irã, por exemplo.
Acredito que a religião pode ajudar algumas pessoas que não conseguem assumir a responsabilidade pelo seu destino. Mas, para a humanidade como um todo, a religião trouxe mais males do que bem.
O mundo estaria bem melhor se a Filosofia estivesse ocupando o lugar da religião.

domingo, 11 de outubro de 2009

BRASIL

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Jornal do Comércio, 11 de outubro de 2009 - Classificados JC ´pag. 30
empregos - gestão de pessoas - olhar interior.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

As contradições da imprensa

CRISE EM HONDURAS

Por Luciano Martins Costa em 8/10/2009
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=558JDB006

Passados quase três meses da derrubada do presidente Manuel Zelaya, a crise em Honduras tem finalmente um horizonte: segundo os jornais de quinta-feira (8/10), as comissões encarregadas de encontrar uma solução para o impasse dividiram as questões em dois grupos principais e cada uma delas vai encaminhar soluções específicas.

É um caso raro de notícia que faz sentido no meio da confusão de opiniões sobre o golpe que tirou do poder o presidente constitucional e o enviou ao exílio.

Vislumbrada uma saída capaz de evitar a transferência do conflito para as ruas, a imprensa internacional começa a avaliar o papel do Brasil no episódio, observando que a diplomacia brasileira pode estar se consolidando como ponto de equilíbrio na América Latina e se contraponto ao arrivismo do grupo liderado pelo venezuelano Hugo Chávez.

No cenário de análises apresentado pela imprensa, chama atenção a entrevista da vice-chanceler do governo golpista, publicada pelo Estado de S.Paulo, na qual ela afirma, sem oferecer maiores explicações, que o presidente do Brasil está muito vinculado a Hugo Chávez.

Que a funcionária hondurenha tenha essa opinião, e que a manifeste publicamente, é parte das controvérsias. Mas destacar a frase no título, em toda a extensão no alto da página, sem qualquer contexto que possa ajudar o leitor a analisá-la, é menos jornalismo e mais militância do jornalão paulista.

Por essas e outras é que a imprensa brasileira às vezes é acusada de resvalar do noticiário puro e simples para a militância partidária explícita.

Na mídia internacional que trata de assuntos diplomáticos, que se pode acessar pela internet, não há publicação conceituada que considere o Brasil de alguma forma refém do governante venezuelano. Pelo contrário, é ponto pacífico que o governo brasileiro atua quase sempre no sentido de aparar as arestas provocadas por declarações ou atitudes intempestivas de Hugo Chávez.

Os editores do Estado de S.Paulo sabem que a opinião da vice-chanceler em exercício de Honduras não seria levada a sério em qualquer mesa de debates.

Então, por que colocá-la em destaque?

A pilha das contradições

Desde 2003, quando se tornou clara a opção de política externa do governo, a imprensa nacional vem seguidamente se apresentando na condição de opositora, acusando-o de exercer uma diplomacia terceiro-mundista e cobrando maior alinhamento com os Estados Unidos.

O Brasil seguiu uma política de independência, reforçou os laços com a vizinhança, melhorou as condições do comércio regional, consolidou as relações com outros países em desenvolvimento e emerge da crise financeira internacional em posição de destaque não apenas na economia, mas também no papel de mediador de conflitos na América Latina, papel que até então era exercido exclusivamente pelos Estados Unidos.

Ainda em 2002, quando o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que viria a ser o secretário geral do Ministério das Relações Exteriores, anunciava sua opinião segundo a qual o Brasil não precisaria se aliar à Alca para se tornar um protagonista importante no processo de globalização, os jornais e revistas brasileiros – com exceção da Carta Capital – o colocaram como alvo de críticas.

O Brasil escolheu como prioridade o Mercosul, anulou a tentativa de Hugo Chávez de estabelecer um mercado comum bolivariano e se transformou em ponto de apoio para o desenvolvimento da maioria dos países ao sul do Rio Grande, aquele que separa os Estados Unidos do México.

O dinheiro do petróleo não tem sido suficiente para que a Venezuela concretize os delírios de Hugo Chávez. Em contraposição, o Brasil coleciona avanços diplomáticos e comerciais importantes.

Papel velho

A crise de Honduras pode estar chegando ao fim em poucos dias.

As negociações tratam basicamente de encontrar uma saída honrosa para os protagonistas trapalhões, todos eles, de um lado e de outro, típicos personagens de velhas oligarquias que dominam a política na região.

Com a posição ambígua adotada pelo governo Barack Obama, e sem heróis dignos de um panteão nesse episódio, a História vai acabar registrando a vitória do pragmatismo brasileiro. E a pilha de jornais velhos será testemunha das contradições da nossa imprensa.

Palestina esquartejada.

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Revista "Caros amigos" - ano XIII - n° 149 - Agosto 2009.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

COMBATE AO CRIME‏

Estado tem redução inédita de homicídios
Publicado no Jornal do Commércio do Recife em 03.10.2009, caderno "cidades", pag. 7.

Queda do número de assassinatos chegou a 22,34% na comparação entre os primeiros nove meses deste ano e o mesmo período de 2008

Nos nove primeiros meses desse ano, o governo do Estado registrou uma redução inédita no número de homicídios em Pernambuco. De janeiro a setembro foram 871 assassinatos a menos se comparado com o mesmo período do ano passado. Uma diminuição de 22,34%.
Isso significa que pela primeira vez desde que o Pacto pela Vida entrou em vigor, em maio de 2007, o Estado pode terminar um ano alcançando a meta de 12% de redução dos chamados crimes violentos letais intencionais (CVLI).

De janeiro a setembro de 2008, o governo registrou 3.898 assassinatos. No mesmo período deste ano, a quantidade ficou em 3.027.

Antes de 2009 acabar, no entanto, esse já pode ser considerado o melhor resultado no combate aos homicídios desde 2003, quando uma nova metodologia de contagem de CVLIs começou a ser implantada.

Dados da Secretaria de Defesa Social (SDS) também mostram que pelo décimo mês consecutivo, a quantidade de assassinatos diminui em Pernambuco. A queda teve início em dezembro do ano passado e não parou mais.

De acordo com a SDS, o mês de setembro registrou uma diminuição de 28% na quantidade de assassinatos quando comparado ao mesmo mês de 2008. Além disso, pela primeira vez em seis anos, um mês terminou com menos de 300 homicídios.

Os números estão sendo muito comemorados pela SDS, já que de 2007 para 2008, a redução não passou dos 2%. Em entrevista à Rede Globo, o secretário Servilho Paiva destacou o trabalho de gestão implantado pelo governo do Estado.

“Muito trabalho de gestão, de busca pelas metas de cobrança e resultados, de acompanhamento de focos específicos. Enfim, o resultado é fruto de um modelo de gestão acompanhado pelo patrocínio do governador do Estado em relação à segurança pública”, explicou.

O novo modelo de gestão da SDS, implantado no ano passado, consiste no acompanhamento dos resultados e cobrança direta dos gestores de cada região.

O monitoramento de desempenho funciona da seguinte forma: o Estado foi dividido em 217 circunscrições. Na capital, uma circunscrição corresponde a um agrupamento de vários bairros. No interior, elas podem corresponder até a um município inteiro.

Cada uma das circunscrições tem um delegado e um oficial da Polícia Militar como gestores. Esses policiais precisam prestar conta semanalmente sobre os índices de crimes violentos letais intencionais em suas jurisdições.

Uma vez por mês, delegados e oficiais prestam conta diretamente ao governador Eduardo Campos.

Lula reduz imposto de rádios menores.

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=19687

Depois de aumentar de 499 para 5.297 o número de veículos de comunicação que recebem verbas de publicidade estatal federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora resolveu conceder uma redução de imposto para cerca de 4.000 emissoras de rádio no interior.
A decisão faz parte da lei eleitoral sancionada por Lula na última terça-feira (29.set.2009). O benefício fiscal será dado na forma de ressarcimento a essas pequenas rádios como compensação pelo tempo que cada uma cede para propagandas partidárias e eleitorais. Hoje, esse tipo de dispositivo só é facultado a empresas de radiodifusão –rádio e TV– de grande porte.
Embora a lei tenha sido elaborada no Congresso, Lula autorizou explicitamente essa iniciativa. Participaram das negociações equipes da Receita Federal e do Ministério da Fazenda. Ajudaram no processo os ministros Hélio Costa (Comunicações), Paulo Bernardo (Planejamento) e Dilma Rousseff (Casa Civil). O próprio Lula recebeu representantes da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) para tratar do assunto.
Para o presidente da Abert, Daniel Slaviero, “havia uma injustiça histórica” contra as pequenas rádios. “Todas as emissoras tinham o mesmo ônus ao cederem seus horários para os programas dos partidos e dos políticos. Mas só as de maior porte tinham autorização legal para receberem algum ressarcimento”, afirma.
O funcionamento é simples: a empresas calcula quanto perdem por cederem espaço para as propagandas eleitorais, abatem esse valor do seu faturamento sobre o qual será calculado o imposto.
Por essa razão que é errada a expressão “horário eleitoral gratuito”. Só é gratuito para os políticos e seus partidos. Quem paga são todos os brasileiros, pois menos impostos são arrecadados.
A nova regra de conceder redução de imposto para 4.000 rádios no interior está em linha com uma prioridade antiga do governo: aumentar a viabilidade econômica da mídia regional. Desde o início do seu primeiro mandato, Lula tem sistematicamente procurado dar mais oxigênio para pequenos jornais, rádios e revistas.
A pulverização da publicidade estatal é a face mais visível dessa estratégia. O bolo de mais de R$ 1 bilhão por ano gasto em propaganda pelo governo federal já foi distribuído por meios de comunicação em 1.358 cidades. Quando Lula assumiu, em janeiro de 2003, eram apenas 182 municípios.
(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.