terça-feira, 29 de setembro de 2009

Oração de quem descobre que está envelhecendo.

Ó Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia.
Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.
Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros.
Ensina-me a pensar nos outros e a ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando com modéstia a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante.
Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos, e que só se preserva os amigos e os filhos quando não há intromissão na vida deles.
Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá asas à minha imaginação para voar diretamente ao ponto que interessa.
Não me permita falar mal de alguém.
Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa.
Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir muito. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência.
Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errada em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis. Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço:
Mantenha-me o mais amável possível.
Livrai-me de ser santa.É difícil conviver com santos!
Mas uma velha rabugenta, Senhor,é obra prima do diabo!
Poupe-me, por misericórdia.

Autora desconhecida.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sucessão precidencial 2010

Blog de Inaldo Sampaio
24 de setembro às 12:57:41
Escrito por Fabiana Gonçalves

Confira o comentário do ex-deputado federal (PMDB) Maurílio Ferreira Lima sobre o resultado da pesquisa do Ibope que apontou Ciro empatado com Dilma:

“Já podemos ter certeza que a candidatura Ciro Gomes é inarredável. Dilma Rousseff colou uma imagem que passou de ruim para se transformar em uma correnteza de hostilidade a sua pessoa. Ela está em uma situação de que se cuspir no chão o cuspe pode atingir o olho.

Marina Silva não decola nem incomoda. Ela ocupa um nicho no eleitorado que precisa de alguém que aponte sonhos e utopias. E é importante que esse espaço seja ocupado por uma pessoa digna, serena e tranquila.

As vantagens e trunfos de Ciro Gomes

Ciro não é PT. È Lula. A história mostra que após 8 anos de poder, o eleitorado quer mudar . Não quer mais o PT, mas quer LULA. Essa rejeição ao PT afunda Dilma Rousseff mais ainda. Dilma vai levar consigo para o buraco o PMDB, devido ao tempo de TV. No segundo turno o apoio do PMDB não interessará porque não tem TV. Ciro indo ao segundo turno certamente vai declarar que não aceita o apoio do PMDB, como já declarou ontem em entrevista e esta posição será aplaudida pela opinião pública. O papel histórico de Ciro Gomes está predestinado a um papel histórico. Mandar para o lixo da história o maior entulho hoje da Democracia brasileira, o PMDB que para o bem da nação finalmente acabará na eleição de 2010.

Rejeitado por Ciro Gomes, o PMDB tentará se aliar a Serra. Com Serra estacionado com menos de 40%, no desespero ele poderá receber o apoio do PMDB. Aí vão os dois para um caixão preto com vela apagada. Só o próprio Ciro poderá alterar esta trajetória, se perder o equilíbrio e continuar passando uma imagem de desequilibrado emocional”.
http://www.ieimidia.com.br/site/blog/in.php?page=inBlog&idB=3385

25 de Setembro de 2009 às 18:09:56
Escrito por Fabiana Gonçalves

O comentarista do blog, ex-deputado federal Maurílio Ferreira Lima (PMDB) esclarece alguns pontos questionados pelos leitores no seu último post.

Leia a seguir:

"Tenho recebido alguns emails pessoais sobre matéria de minha autoria postado no seu blog a respeito do titulo do post sobre Ciro Gomes e governar sem o PMDB. Pelo respeito que devemos aos nossos leitores, vamos esclarecer: a notícia sobre o favoritismo de CIRO GOMES em 2010 eu chamei de nuvem, porque as eleições não serão agora, mas em 2010 e muitos dizem que política é como nuvem, hoje tem uma forma e amanhã terá outra, pois o soprar do vento pode alterar tudo. Como muito vento vai soprar até 2010 o que vemos hoje pode mudar radicalmente.

Governar sem o PMDB. Imaginando o cenário de Ciro eleito presidente, tendo rejeitado o apoio do PMDB em um 2º turno, ele conseguirá governar? Uma eleição é como uma guerra. Durante a guerra o que interessa é derrotar o inimigo e ocupar seu território. Terminada a guerra você retira o exército de guerra e passa a usar o exército de ocupação. O exército de ocupação, diferente do exército de guerra, tem como missão governar os territórios ocupados e a história é outra.

Para se governar um país, você precisa contar com uma maioria sólida no Congresso. As regras para ter essa maioria não são as que prevalecem na sua cabeça nem na estratégia eleitoral que lhe tornou vitorioso. As regras são as que prevalecem no Congresso. As últimas eleições têm mostrado que a cada pleito o PMDB elege menos deputados e senadores. Mas vamos partir da hipótese que o PMDB elegerá entre 60 e 65 deputados e uma dezena de senadores. A prática tem mostrado que em uma bancada de 70 do PMDB, 30 pelos menos estão se lixando se a direção do partido está apoiando o Governo, sempre votarão contra. Cerca de 40 estão sempre dispostos a votar no governo, desde que tirem alguma vantagem. Não precisa ser mensalão. São liberação de emendas parlamentares, obras nos seus municípios e aparecer ao lado do presidente quando for ao seu Estado, se por acaso o presidente está nas nuvens.

Há também o problema mais complicado de você ter que ceder ministérios ou postos importantes. AS REGRAS SÃO ESSAS e Lula não teve força para mudá-las nem terá Ciro ou Dilma. Como o problema começa a preocupar Ciro ele diz que faz estas negociações sem perder a hegemonia moral. Não sei como ele fará isso em negociações tão asquerosas. Não é cinismo meu , mas essa é a realidade do nosso país".
http://www.ieimidia.com.br/site/blog/in.php?page=inBlog&idB=3411

domingo, 27 de setembro de 2009

Má vontade da grande imprensa

Maioria dos brasileiros dizem que 2º mandato de Lula é melhor que o 1º

Escrito por Inaldo sampaio
Ex editor-chefe do Jornal do Comércio do Recife.
26 de Setembro de 2009 às 10:07:34

O sociólogo Antonio Lavareda, ao analisar a última pesquisa do Ibope/CNI referente à intenção de votos dos brasileiros para presidente da República, disse que a grande imprensa omitiu um dado relevante para a imagem do presidente Lula e do seu governo.

De acordo com esse dado, 44% dos entrevistados acham que o segundo mandato do presidente está sendo melhor que o primeiro, 40% acham que está igual ao primeiro e só 14% dizem que está sendo pior.

Por que esse dado é relevante? Porque, em geral, o segundo mandato de um governante tende a ser pior que o primeiro. Exemplos? Fernando Henrique Cardoso e Jarbas Vasconcelos.

Outro dado relevante da pesquisa, segundo Lavareda, que pode ter forte influência na eleição presidencial, diz respeito à economia.

Ela constatou que o medo que os brasileiros tinham de perder o emprego está ficando para trás, o que significa que, na cabeça da maioria dos brasileiros, os efeitos da crise econômica estão desaparecendo.

Aliás, a má vontade da grande imprensa em relação ao presidente Lula pode ser constatada diariamente nos grandes jornais. Ele foi apontado pela revista “Newsweek” (uma das publicações mais influentes da Europa) com o líder político mais popular do planeta e esse dado por aqui passou praticamente despercebido.

http://maisab.globo.com/inaldosampaio/

sábado, 26 de setembro de 2009

Chávez: A revolução em marcha

AE - Agencia Estado

CARACAS - O presidente de Venezuela, Hugo Chávez, em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pela primeira vez em três anos, fez uma forte crítica ao capitalismo e disse que o socialismo será a "salvação" do planeta. Ele sugeriu que o presidente Barack Obama rejeitasse o capitalismo e aderisse ao socialismo. Para Chávez, o socialismo é a resposta para "o mundo que todos queremos".

Chávez elogiou o presidente dos Estados Unidos por seus discursos e pelo que alguns chamam de políticas socialistas do norte-americano. No entanto, o líder venezuelano também questionou o motivo da manutenção do embargo americano a Cuba e criticou Obama o plano de Obama para ampliar a presença de militares americanos em bases na vizinha Colômbia. O mandatário indicou ainda não estar seguro sobre as intenções de Obama. "Quem é você Obama? Obama I ou Obama II?" disse Chávez.

Socialismo

Desde que chegou ao poder há uma década, Chávez tem movido a Venezuela em direção ao que ele chama de "socialismo do Século 21". Ele nacionalizou grande parte do setor petrolífero da Venezuela e tomou o controle parcial do sistema bancário, da indústria e de outros segmentos da economia.

Chávez usou os minutos iniciais do discurso para falar do filme South of the Border (Ao Sul da Fronteira), do diretor Oliver Stone. O líder venezuelano disse ter visto o filme na noite anterior. "Eu aproveito essa oportunidade para dizer a vocês que ao sul da fronteira existe uma revolução em marcha", disse. "O mundo precisa vir e ver isso e tomar ação nela, aceitá-la como um fato da vida que não mudará. É uma revolução necessária que apenas crescerá com a passagem do tempo nos próximos meses e anos".

Chávez disse que embora algumas distribuidoras americanas de cinema e donos de salas se recusem a rodar o filme, ele será visto pelo público. "O filme será exibido. Nesta era da informação, os donos de cinemas não podem evitar que o conhecimento circule".

Chávez mencionou novamente o escritor americano de esquerda Noam Chomsky, já elogiado por ele em 2006. Chávez recomendou a leitura do livro de Chomsky, "The Fear of Democracy" (O Medo da Democracia).

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/chavez-a-revolucao-em-marcha/
Atualizado em 24 de setembro de 2009 às 19:00 | Publicado em 24 de setembro de 2009 às 18:58

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dossiê falso disseminado por Mainardi

Atualizado em 25 de setembro de 2009 às 15:44 | Publicado em 25 de setembro de 2009 às 14:39

por Luiz Carlos Azenha

Frequentemente nós, blogueiros, publicamos comentários sem nos dar conta de que há muitos leitores novos na internet. Gente que está chegando agora e que não entende as críticas que fazemos à mídia corporativa.

Por isso, perdoem-me os iniciados. Vou começar do começo. Foi o blogueiro Luís Nassif quem, com sua série sobre os bastidores da revista Veja, deu um passo importante para demonstrar o uso que se faz de dossiês para o chamado assassinato de reputações no Brasil.

Esses dossiês visam derrubar alguma autoridade ou defender algum interesse político e econômico inicialmente obscuro.

Para ler a série acesse o blog do Nassif:
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/02/18/

Os dossiês são montados com meias-verdades, ilações e boatos. Ganham as páginas de jornais e revistas ancorados em suposições e acompanhados de uma saraivada de "supostos", "possíveis" e "prováveis".

Os jornalistas fazem o papel de "mão do gato". Os interesses por trás dos dossiês são escondidos do público. Fica parecendo tratar-se de uma denúncia jornalística, quando se trata na verdade de um assassinato de reputação.

O mais recente dossiê divulgado pela mídia foi acolhido pelo colunista Diogo Mainardi, da revista Veja. E ganhou repercussão via Ali Kamel, por mais de um dia, no Jornal Nacional.

Ambos -- Mainardi e Kamel -- deram pernas à falsificação, que está sendo investigada pela Polícia Federal.

Para entender melhor, leiam a nota publicada pelo portal Vermelho:
http://www.vermelho.org.br/

PF descobre quem foi que tramou com a Veja os ataques a Martins

O agente federal aposentado Wilson Ferreira Pinna, lotado na Agência Nacional de Petróleo (ANP), foi apontado pela Polícia Federal como o autor do falso dossiê contra o diretor do órgão, Victor de Souza Martins, irmão do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. O dossiê falsificado foi usado pela revista Veja para atacar a ANP e o ministro.

O material falsificado acusava Victor de Souza de aumentar os royalties das prefeituras que contratavam a empresa Análise Consultoria, que ele tem em sociedade com a mulher, Joseana Seabra. Pinna foi denunciado na 2ª Vara Federal Criminal do Rio pelos crimes de interceptação telefônica ilegal e quebra de sigilo fiscal dos irmãos de Vitor, inclusive do ministro.

Após a revista "Veja" divulgar o dossiê em abril, primeiramente através da coluna de Diogo Mainardi e posteriormente em matérias da própria revista, o Ministério Público Federal constatou que o documento não estava no inquérito da Delegacia Fazendária, que apura corrupção nos repasses de royalties. A inexistência do dossiê levou o superintendente da PF no Rio, Angelo Gioia, a abrir novo inquérito.

Em maio, a PF descobriu um pendrive com o falso dossiê, as declarações de renda obtidas ilegalmente e as transcrições de gravações telefônicas. Não se sabe ainda qual jornalsita da revista Veja recebeu o pendrive, mas os policiais identificaram Pinna como o autor.

Por meio de representação à juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal, onde tramita o inquérito, foi pedida a prisão do agente, além de busca e apreensão na sua casa e na ANP.

O pedido foi para as mãos do juiz Rodolfo Kronemberg Hartmann, da 2ª Vara Federal, que não analisou o caso, provocando um conflito de competência. Tudo parou até 15 de julho, quando o Tribunal Regional Federal (TRF) decidiu que a competência é da 2ª Vara. Após negar pedido de prisão, Hartmann intimou Pinna a apresentar sua defesa, antes de decidir se aceita a denúncia.

Ontem, procurado pelo Estado, Pinna reclamou da divulgação do caso por conta do segredo de Justiça e depois se apegou na rejeição do pedido de prisão para se defender. Vitor repetiu o que falou na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados: "Quero justiça, saber quem fez essa investigação criminosa, a mando de quem, quem pagou e com qual objetivo."

Em seu blog, o jornalista Luís Nassif afirma que a lógica deste novo episódio do dissiê contra Martins é a mesma que descreve na série de matérias que desmascaram a revista Veja, especialmente no capítulo “O Lobista de Dantas”. "Primeiro, o lobista passa o dossiê para Diogo Mainardi. Ele escreve, Veja garante o espaço. Não é uma ou duas vezes, é mais que isso, é sistemático", denuncia Nassif.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo

Aqui, a nota mais recente do blog do Nassif sobre o episódio:

25/09/2009 - 11:14

As investigações sobre o dossiê falso

Algumas informações sobre a operação criminosa do dossiê falso sobre a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

1. Há meses, a mídia tem material das investigações sobre Wilson Ferreira Pinna, o araponga que produziu o falso dossiê contra Vitor Martins.

2. Só ontem o Estadão deu, com pouco destaque, e tratando Vitor Martins como Vitor Souza. No período das acusações, insistiu-se no sobrenome Martins. Seu nome é Vitor de Souza Martins.

3. Na matéria da Folha, Márcio Aith desinforma os leitores ao dizer que Pinna era homem de confiança do presidente da ANP Haroldo Lima. Ontem mesmo, Stanley Burburinho já tinha constatado que sua indicação se deu na gestão David Zilberstein. Essa informação é corrente na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, presumível fonte dos jornalistas sobre o tema.

4. A proposta de contratação de Pinna foi feito por Luiz Augusto Horta Nogueira em 2002.

5. Na Superintendência da PF do Rio há suspeitas fundadas de que Pinna tinha alguém acima dele controlando as operações. As suspeitas recaem sobre Jorge José de Araújo Freitas, chefe do Setor de Inteligência da ANP.

6. Ontem, a ANP se declarou surpresa com as notícias. Se for verdade, se o presidente Haroldo Lima não havia sido informado por Freitas, o enigma estará decifrado. Há tempos, Freitas já havia procurado a Superintendência da PF no Rio, mostrando-se informado sobre as investigações.

7. Quem ouviu o conteúdo dos grampos de Pinna diz que não tem uma informação relevante. Foram divulgados apenas para criar o ar de ameaça às vítimas.

8. Não existe sigilo de fonte para acobertar operações criminosas. Veja e seu parajornalista terão que informar o nome da fonte que repassou o dossiê, sob pena de se tornarem cúmplices de um crime.

PS – Recebo telefonema de Marcelo Auler informando que possuía as informações sobre as investigações desde maio. Informou o Estadão e pediu para segurar, para não comprometer as investigações. E o Estadão atendeu às suas ponderações. Uma lufada de jornalismo, que honra a tradição da casa.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/para-entender-o-dossie-falso-disseminado-por-mainardi/

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Festival de Veneza - O santo e o demônio

Duvido muito que este filme passe no circuito comercial no Brasil, mesmo que ganhe a Palma de Ouro. Se passar será no circuito alternativo de cinema, tipo Cinema da Fundação, Cine Teatro Apolo e Cine Teatro do Parque.

-Ídolos dizem muito de um homem. Seus vilões também. Se analisados sob esse prisma revelador, os diretores norte-americanos Michael Moore e Oliver Stone teriam poucas semelhanças além do ponto de partida documental que alimenta o cinema de cada um. Quis o destino, ou quem sabe a persistência, que seus filmes mais recentes pudessem ser confrontados com poucas horas de separação sob um ambiente favorável tanto à mera badalação como ao debate. Mas foi o primeiro tom que se firmou no Festival de Veneza quando Stone promoveu seu personagem eleito para o documentário South of the Border. Uma promoção não apenas sacramentada no filme, mas também ao vivo, quando o presidente venezuelano Hugo Chávez fez uma chegada digna de movie star, descendo de helicóptero, não de barco, como é praxe na ilha do Lido, que sedia o evento.

Popular, ou populista como preferem seus inimigos, Chávez cumprimentou curiosos, deu autógrafos e saudou bandeiras vermelhas que surgiram na multidão. E se fez acompanhar de Stone, seu hagiógrafo, segundo denominou um arguto crítico italiano. Michael Moore, por sua vez, fez sozinho o papel que lhe cabe há pelo menos uma década. Um tipo solitário e picaresco que acredita incomodar carregando sozinho a bandeira contra as mazelas americanas, do terrorismo ao sistema de saúde. Desta vez seu embate é mais ambicioso e se chama Capitalism: A Love Story.

Corre o risco de ser inexato quem achar que é apenas Chávez o ídolo de Stone. Ao lançar-se sobre o polêmico chefe de Estado venezuelano para descobrir se é verdade tudo aquilo dito sobre ele, o diretor faz um percurso muito maior do que precisaria para chegar à conclusão dos méritos de seu eleito. Entrevista os vizinhos que comungam dos mesmos valores chavistas, por sua vez bebidos das ideias libertadoras do herói latino-americano Simón Bolívar, a confirmar o que os espectadores abaixo da linha do Equador, também aquele de Rafael Correa, já sabem. Evo Morales da Bolívia, Christina Kirchner da Argentina, Fernando Lugo do Paraguai, Raúl Castro, de Cuba, e, claro, Lula, são instigados a dizer que há algo de um poder transformador no reino da América Latina. E o fazem para um diretor deslumbrado, como um navegador diante de um novo continente avistado da caravela. Entre um depoimento e outro, temos um retrato pontual das etapas que o Chávez de origem humilde seguiu na escalada para o poder, de uma visita ao povoado onde nasceu e no reencontro com a casa de sua família aos golpes fracassados e mais tarde bem-sucedidos.

Stone só não é menos condescendente quando busca no recurso da montagem de diversos programas americanos de TV a peça-chave para justificar seu credo. Para ele, cabe a certa imprensa de seu país o papel de vilão que demoniza São Hugo. Encontra-a no canal assumidamente conservador do magnata Rupert Murdoch, a Fox News, no qual uma apresentadora de jornal se escandaliza com a revelação de que o presidente venezuelano masca coca. Ao que seu colega questiona: qual o problema de experimentar “cocoa”?, pergunta, confundindo cacau com a erva danosa a figuras públicas. Mais tarde, num de seus encontros com Chávez, o realizador será visto petiscando uma boa quantidade do produto tipo exportação venezuelano.

Nesse ponto, e em outros do filme, estabelece-se uma sintonia com o estilo picaresco de Michael Moore, comportamento no qual, reconheça-se, é bem mais desenvolto que seu colega. Como se sabe de filmes anteriores, Fahrenheit e Sicko, por exemplo, fazem parte da construção de sua persona cinematográfica o recurso do humor um tanto “clownesco” e as atitudes de efeito que o consagraram. A maneira de encarar seus adversários a ponto de constrangê-los, persegui-los correndo na rua ou lançando mão de expedientes que seguramente terminarão fracassando, prosseguem agora sob novo pretexto.

Capitalism Is Evil, o capitalismo é o mal, decreta Moore. E lá vai ele, nas cercanias de Wall Street, atrás de um demônio vestido de terno e gravata, valise na mão, a verificar a cotação da Bolsa nas páginas econômicas. Ou ainda, numa paródia à moda de Charles Dickens, como bem notou um crítico da Time, entrevistar adolescentes de uma pequena cidade que foram parar na cadeia por ordem de um juiz ao cometerem infrações como dirigir o carro do pai. Tudo para justificar a construção de uma penitenciária milionária. Quando bate à porta de americanos afundados em hipotecas e obrigados a entregar suas casas recém-adquiridas, não tem outra intenção senão condenar o nome precedente a Barack Obama na Presidência, responsável por favorecer uma política de consumo desenfreado. Aquele W. para Stone, um drama político de intenção biográfica e documental realizado em 2008, é o mesmo de Moore e nessa questão o ponto de vista de ambos os realizadores convergem.

Não se enganará, desta vez, quem apostar que o novo presidente americano seria o cara para Moore. Mas o cineasta é precavido e ainda acha cedo proclamar que Obama possa ter o mesmo crédito para os americanos do que Franklin Roosevelt, este sim, o paradigma do documentário por seu pensamento e prática. Certa vez, enviou durante o seu governo tropas não para reprimir operários em greve numa fábrica, mas para garantir que ali permanecessem.

Moore busca parte da história americana a seu favor, e como faz com quase todo o material de que se serve para comprovar sua tese anticapitalista, também busca nos luminares testemunhos garantidos e os manipula. Faz isso com Thomas Jefferson. Ele teria sentenciado a um amigo que “acordos bancários são mais perigosos que exércitos em prontidão”. Quando não os encontra na memória americana, Moore produz momentos com tanto empenho que chega a ser risível, como na passagem em que pede a um professor de Harvard que explique o mercado de derivativos e ouve o outro apenas gaguejar. Se a intenção é o apelo da graça e da excentricidade, são mais felizes as passagens com ataques premeditados, mas que geram um constrangimento inesperado, como quando sai com um saco vazio na mão tentando reaver na porta dos bancos o dinheiro dos contribuintes. Ou quando circunda Wall Street com a faixa amarela que a polícia americana utiliza para delimitar os locais de crime.

Interessante verificar a posição diversa da imprensa diante da presença dos dois realizadores em Veneza. O diário italiano Corriere della Sera elege Moore pela ironia e desbanca Stone porque acredita ser seu filme uma mera “declaração de princípios”. Já o La Repubblica aponta o exagero do anticapitalismo de Moore, que “procura suspeitos sacerdotes católicos para condenar o sistema como demônio” ou generaliza as empresas americanas que embolsam o seguro de morte de seus funcionários e dependentes, deixando para esses somente as lágrimas. Mas trata Stone como controverso, batalhador e nunca banal.

A Time, polindo a prata da casa, disse que a saga anticapitalista de Moore “é, em sua carreira, o maior e mais impactante discurso do que acredita, que a alta roda dos negócios do país está destruindo o pequeno trabalhador, enquanto o governo é conivente com a atrocidade”. Ao que o inglês The Guardian rebate: “Capitalism... é cru e sentimental, desapaixonado e sem vigor; traz um universo moral simples, habitado por homens humildes e bons e por grandes malvados, o que faz com que seja duro resistir à confiança de seus argumentos”. Uma maior atenção dedicada a Michael Moore pelos veículos presentes em Veneza talvez signifique ligeira vantagem, já que a controvérsia é sua pedra de toque. Mas ainda é cedo para fechar um balanço e debitá-lo na conta de um ou outro realizador. É dentro das salas de cinema, longe dos holofotes e da badalação de um festival, que o veredicto final se dará.

Orlando Margarido, de Veneza
Revista "CartaCapital" - Ano Xv - n° 564 - Pag. 54 - 23/09/2009.
www.cartacapital.com.br

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Newsweek: 'Lula é o político mais popular da terra'.


Reportagem do site da revista Newsweek chama o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de "o político mais popular do planeta" e diz que o petista é a estrela da Assembleia Geral da ONU, que ocorre em Nova York. Segundo a reportagem, o político fez um trabalho "espetacular" no Brasil, mas questiona: "pode Lula resistir à tentação de jogá-lo (o trabalho) fora?".

O título da reportagem se refere à fala de Obama durante encontro do G20 em Londres em abril, quando o americano disse: "esse é o cara. O político mais popular do planeta".

A revista destaca a infância pobre do presidente e sua ida até São Paulo por uma vida melhor. Na Assembleia Geral da ONU, as câmeras focam o presidente americano, Barack Obama, ou o iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, mas a grande estrela vai ser um "ex-operador de torno barbudo: Luiz Inácio Lula da Silva" e sua aprovação de mais de 70%, diz a publicação.

Segundo a reportagem, o Brasil resistiu à crise econômica como nenhuma outra nação. "As pessoas duvidavam quando eu disse que íamos ser os últimos a entrar na crise e os primeiros a sair", diz Lula em entrevista à Newsweek.

A revista afirma também que, apesar das conquistas econômicas, a grande habilidade de Lula é vender reformas para a população pobre, que acaba por olhar o presidente como um "salvador". Contudo, segundo a reportagem, ao contrário de outros líderes populares da América Latina, Lula faz tudo "dentro das regras".

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Por que não fazemos exercícios?

Clique na imagem para ampliar.

"Nosso Momento" - Informativo n° 144 - julho/2008
ASASTEL - Associação dos Assistidos da TELOS
www.asastel.gov.br

domingo, 20 de setembro de 2009

A mídia como ela é.

Clique na imagem para ampliar.

Revista "Caros amigos" - ano XIII - n° 150 - setembro 2009.

sábado, 19 de setembro de 2009

Saúde - Mudança de hábitos

Clique na imagem para ampliar.

Informativo "Nosso Momento", n° 150 - fev/2009.
ASASTEL Associação dos Assistidos da TELOS.
www.asastel.org.br

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Lei de Comunicação de Massa

Saiu no Globo online:

"Oposição abandona votação
Deputados argentinos aprovam projeto que regulamenta meios de comunicação
Publicada em 17/09/2009 às 02h22m

BUENOS AIRES – A Câmara de Deputados da Argentina aprovou na madrugada desta quinta-feira um projeto oficial para regular os meios de comunicação apesar das críticas da oposição, que teme um maior controle do Estado sobre o setor e abandonou o recinto antes da votação.
Depois de quase 14 horas de debate, o projeto conseguiu 146 votos a favor enquanto três legisladores votaram contra e três se abstiveram. O projeto foi aprovado em geral e os legisladores continuaram a sessão para analisar os artigos em particular.
Depois da aprovação dos deputados, o projeto passará para o Senado, onde encontra mais resistência entre os legisladores.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, sustenta que as reformas à atual lei dos meios de comunicação, entre elas um maior acesso para pequenos grupos e organizações não governamentais, assim como também a aplicação de restrições ao número de licenças para possuir uma empresa de comunicação, reforçará a democracia.
Mas os que criticam a iniciativa dizem que o objetivo final do projeto é golpear o poderoso conglomerado de mídia Grupo Clarín."

O Brasil foi o último país a acabar com a escravidão.
O Brasil é o único país dos que formavam a Operação Condor que não pune os militares que torturavam.
O Brasil tem uma legislação sobre comunicações que data de 1963, quando o presidente João Goulart governava.
Argentina, Uruguai e Chile criaram leis para conter o poder da Globo.
No Brasil, não.
O PiG (*) esconde debaixo do tapete.
A Lei de Comunicação de Massa está na gaveta do Ministro das Comunicações desde o Sergio Motta.
Antes de morrer, Sérgio Motta disse a Fernando Henrique: não seja pequeno.
Como se sabe, ele é pequeno.
O Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega.
Nem no México …
Paulo Henrique Amorim
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=18441

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Brasil ganha mais uma universidade: UFFS

Foi sancionado hoje, na sala de audiências do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, o projeto de lei 152/09 que cria a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFSS) em Chapecó (SC), a 11a. do governo Lula, que ultrapassa assim a marca histórica de 10 universidades federais criadas pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek na década de 1950.
A UFFS vai atender a 396 municípios da Grande Fronteira Sul, região que engloba vários municípios do oeste dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e atender à antiga demanda dos moradores de uma região pela construção de uma universidade. Ainda em 2010, a UFFS vai realizar seu primeiro processo seletivo, para 2.160 alunos. Mas quando estiver em pleno funcionamento, a universidade atenderá cerca de 10 mil estudantes, com campi instalados nas cidades de Cerro Largo (RS), Erechim (RS) Laranjeira do Sul (PR) e Realeza (PR), além do campus localizado na sede da UFFS, em Chapecó (SC). Vejas as fotos aqui.
Durante a cerimônia, o ministro da educação Fernando Haddad se mostrou otimista a respeito da breve aprovação, na Câmara dos Deputados, da extinção da Desvinculação de Receitas da União (DRU) na Educação, que restitui à pasta os percentuais da arrecadação da União a serem destinados ao setor. A DRU, aprovada em 1994, permitia ao governo desvincular 20% da arrecadação de seus devidos destinos para aplicação em outras áreas, sendo a Educação uma das grandes prejudicadas.

Blog do Planalto:
Terça-feira, 15 de setembro de 2009 às 18:03

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Hugo Chaves e a grande imprensa

Quando uma notícia é negativa para o presidente Hugo Chaves da Venezuela, a grande imprensa faz o maior estardalhaço, fica repetindo vários dias em todos os telejornais.
Mas quando a notícia é positiva, como essa de Chaves sendo aplaudido em toda a Europa, a grande imprensa silencia. Não apareceu a mínima referência à viagem de Chaves em nenhum telejonal.
É assim que se desconstrói a imagem de qualquer líder que contrarie os interesses da minoria privilegiada e tente fazer um governo em benefício da maioria despossuída do seu país.
(Clique na imagem para ampliar)

Hagiografia: Relato ou biografia da vida de um santo.
Não acho que Hugo Chaves seja um santo, mas também não é o demônio que a grande imprensa quer nos fazer acreditar.

domingo, 13 de setembro de 2009

Decisão estratégica

Publicado no Jornal do Commércio em 13.09.2009

O presidente Lula e os presidentes da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e da Transpetro, Sérgio Machado, aproveitaram a solenidade de batimento de quilha do primeiro navio Suezmax que está sendo construído em Suape para uma espécie de desabafo contra os todos que não acreditaram no empreendimento. Os que até cunharam a expressão estaleiro virtual. Mas, justiça se faça, salvo o próprio Lula, que bancou a aposta quando tomou a decisão de governo de faze-los no Brasil, para muitos a idéia de construir superpetroleiros foi tão ousada que, naturalmente, pareceu absurda.
E ela ainda o é. E isso só faz engrandecer o projeto do Atlântico Sul como marco social e de engenharia. E mais ainda quando as perspectivas do pré-sal efetivamente abrem oportunidades para novos desafios, como fazer sondas como as que serão licitadas com o objetivo estratégico de serem construídas no Brasil.

Esse talvez seja o diferencial dos que, passados sete anos, receberam a tarefa de reintroduzir a indústria naval na grade brasileira. Mas não dá para reduzir isso a uma simples cobrança de quem acreditou ou não. A indústria naval brasileira está sendo reconstruída porque o Brasil precisa dela, como nação, para se inserir no mercado internacional marítimo como um novo ator de peso. Foi o tamanho da nossa economia que passou a exigir isso como fator de competitividade. Tornou-se necessário dominar o processo como será necessário dominar o de fazer submarino, caça, refinaria e, no futuro, usinas nucleares. Foi muito além da ideia de fazer aqui porque era preciso gerar emprego local.

Economia - JC negócios
Fernando Castilho
castilho@jc.com.br

sábado, 12 de setembro de 2009

PF prepara ação contra empreiteiras.

“Busca e apreensão em empresas e casas, AINDA SEM DATA MARCADA (a ênfase é minha – PHA), vazou para alguns investigados.”
Os alvos dos inquéritos são a OAS, Camargo Correa, Odebrecht, Nielsen, Queiroz Galvão e Gautama.
A suspeita de corrupção ocorreu quando Carlos Wilson, do PT de Pernambuco, dirigiu a Infraero.
O delegado responsável é Cesar Hubner.

A Polícia Federal do Diretor Geral acusado de torturar empregadas domésticas – Luiz Fernando Correa -, que despacha direto com Gilmar Dantas (*), é um especialista em vazamentos.
Deixa vazar e pune vazamentos que não consegue provar.
No caso da Operação Satiagaha, Correa deixou vazar para essa mesma repórter da Folha de hoje, Andréa Michael, informação providencial. Avisou que Dantas – como, agora, os donos das empreiteiras – podia ir em cana.
Michael e Correa ajudaram Dantas a se armar, preparar dois HCs no recesso do Supremo Tribunal Federal, tentar subornar o policial federal que, supostamente, passara a presidir a Satiagra.
A Polícia Federal, ao mesmo tempo, tenta prender e desqualificar o ínclito delegado Protógenes Queiroz, por suposto vazamento.O Diretor Geral tem que ir embora hoje.
A Polícia federal dele vaza mais que penico de asilo.
Junto, esse delegado Cesar Hubner tem que ir embora também.
Os dois não merecem mais a confiança de ninguém.
Que vazamento é esse ?
Para o pessoal queimar as provas ?
Fugir para a República Dominicana de jatinho ?
Os senhores levaram grana nisso, Dr Correa , Dr Hubner ?
E o Ministro da Justiça, o Abelardo Jurema ?
Quem vazou para a Folha (*) ?
Quem vazou para a Andréa Michael prisão do Dantas a gente sabe.
Mas, e esse vazamento de hoje, Ministro
Tá nessa também ?
É chegado a um empreiteiro, também ?
O Presidente que tem medo, o Presidente Lula, poderia ter legado à democracia brasileira uma Policia Federal Republicana, se deixasse lá o inclito delegado Paulo Lacerda.
Permitiu-se chamar às falas por Gilmar Dantas (*) e deu nisso.
Cadê o áudio do grampo, Dr Correa ?
Quando o senhor vai entregar o inquérito que desmoraliza a Veja, o Gilmar Dantas (**) e o Ministro serrista Nelson Jobim, o que providenciou a babá eletrônica ?
Cadê o áudio, Dr Correa ?
A Polícia Federal do Governo Lula vai conseguir se desmoralizar mais do que a do antecessor.
Será difícil, mas será, também, uma proeza.

Paulo Henrique Amorim
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=18065

Estaleiro constrói 1º navio

Publicado no Jornal do Commércio em 12.09.2009
Adriana Guarda
adrianaguarda@jc.com.br

Sob uma salva de fogos de artifício e o olhar atento de autoridades e operários, cerimônia do batimento de quilha marcou o nascimento do 1º petroleiro
Vestido com o jaleco do Estaleiro Atlântico Sul (com seu nome bordado), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acionou, na manhã de ontem, em Suape, o guindaste que colocou, no fundo do dique seco, o primeiro bloco de aço do navio número 1 do empreendimento. Sob uma salva de fogos de artifício e o olhar atento de autoridades e operários, a cerimônia do batimento de quilha marcou o nascimento do petroleiro, que será lançado ao mar entre janeiro e fevereiro do próximo ano e entregue à Transpetro em abril. Nove mil funcionários participaram da solenidade, cheia de momentos de euforia tanto das autoridades quanto da plateia.
O presidente Lula, que durante a solenidade recebeu das mãos de Sérgio Machado (presidente da Transpetro), uma miniatura de uma quilha de navio, ressaltou que o empreendimento é a fotografia de que o brasileiro voltou a acreditar em si, contrariando o que aconteceu em anos de estagnação vividos pelo País. “Eu fico imaginando o tempo que este País perdeu nos anos 80 e 90. Vinte anos é uma geração. E aquela geração perdida, a gente está vendo agora sendo preso um moleque de 20 anos por estar no crime organizado. É resultado do desgoverno que este País passou durante muito tempo”, assinalou.

Ao longo de seu discurso, o presidente Lula também repetiu uma história que tinha contado em setembro do ano passado, quando esteve em Suape para a cerimônia do início do corte das chapas de aço do Atlântico Sul. Ele lembrou que a Petrobras poderia economizar US$ 100 milhões se importasse uma plataforma de petróleo ao invés de construir no Brasil, mas que ainda assim se apostou na retomada da indústria naval no Brasil. “Não tem dividendo melhor do que ver a cara dessas meninas e desses meninos (numa referência aos operários) recebendo salário, por conta que a Petrobras tomou a decisão de fazer as coisas aqui. Esse é o dividendo, essa é a distribuição de renda, essa é a sociedade justa que nós vamos construir neste País”, destacou.

O governador Eduardo Campos relatou a sua satisfação em ver filhos de cortadores de cana e pessoas que nunca tiveram emprego nos municípios de Ipojuca, Cabo, Moreno, Ribeirão e demais cidades pernambucanas, ocupando vagas no empreendimento. “Este é o maior estaleiro de todo o hemisfério sul e foi construído com o suor de diversos pernambucanos. O Atlântico Sul traz a marca da visão de Estado do governo do presidente Lula, além de simbolizar a luta pela desconcentração econômica e a construção de um País mais justo”, discursou.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Portos, escolas técnicas e radiofármacos

O presidente Lula chegou hoje pela manhã a Pernambuco, onde cumpre uma agenda diversificada, com várias inaugurações ao longo do dia.

Na parte da manhã Lula inaugurou o Cais V do Porto de Suape, que recebeu investimentos de R$ 125 milhões e gerou 800 empregos na região. Logo depois, ainda no Porto de Suape, Lula participou do batimento de quilha do primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão de Frota (Promef) da Transpetro, empresa subsidiária da Petrobrás na área de logística e transporte de combustíveis.

À tarde, o presidente inaugura o Moinho Suape (o maior do Brasil), da Bunge Alimentos, localizado no Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca (PE). O moinho produzirá 825 mil toneladas anuais de farinha de trigo e pré-misturas destinadas a panificadoras e indústrias. A iniciativa gera 220 empregos diretos e mais de mil empregos indiretos.

Após inaugurar campi de escolas técnicas no Ceará, Lula entrega hoje outras duas, desta vez em Ipojuca (PE), ambas ligadas ao Instituto Federal de Pernambuco, e outra no município de Floresta, vinculada ao Instituto Federal do Sertão de Pernambuco. A cerimônia de inauguração será realizada em Ipojuca e será transmitida simultaneamente para o pessoal que comparecerá à inauguração em Floresta. Juntas, as duas unidades beneficiarão mais de 1,2 mil estudantes.

Mais à noite, o presidente visita a biofábrica do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), hoje considerada a maior da América Latina em volume de produção de mudas. Depois, o presidente inaugura a Unidade de Produção e Desenvolvimento de Radiofármacos do Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN), em Recife (PE), que disponibilizará para toda a região o radiofármaco flúor-dexaglicose (FDG), usado para realização de exames em tomógrafo. O investimento federal na construção da Unidade é de R$ 18 milhões.

Blog do Planalto
Sexta-feira, 11 de setembro de 2009 às 12:52

Crescimento econômico e educação

Novo ciclo de crescimento exigirá mão-de-obra especializada.

O Brasil está prestes a entrar num novo ciclo de crescimento econômico que vai exigir muita mão-de-obra especializada, por isso o governo vem investindo pesado em educação, especialmente no ensino profissionalizante, afirmou o presidente Lula em entrevista concedida na manhã desta quinta-feira às rádios 810 AM e 93 FM (sistema Verdes Mares) de Fortaleza (CE). Lula foi em seguida para Sobral, no interior cearense, para inaugurar os campi de Sobral e Limoeiro do Norte do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifet) e anunciar a construção de 20 novas escolas técnicas na região.

Perguntado se o Brasil teria como garantir emprego para toda a mão-de-obra especializada que vem sendo gerada pelas escolas técnicas criadas por seu governo (serão 214 até o final de 2010), Lula afirmou que o País vai logo precisar de profissionais capacitados, porque a economia está prestes a entrar em “outro momento histórico de crescimento econômico”. Citou como exemplos grandes obras que serão feitas no Ceará, como uma refinaria de petróleo para 300 mil barris por dia e uma siderúrgica.

Além de a gente não ter noção do que vai significar a exploração do petróleo do Pré-sal.

Lula afirmou que é sempre uma alegria inaugurar uma escola porque assim pode dar aos jovens de hoje o que ele não teve: a oportunidade de entrar numa universidade.

Foi o grande erro do Brasil no século 20 não ter investido na formação de seu povo.(…) Quem vier depois de mim vai ter um novo paradigma para fazer investimento na Educação.

Além das escolas técnicas criadas em sua gestão, o presidente lembrou das 12 novas universidades construídas durante sua gestão e outras quatro que aguardam aprovação do Congresso, entre elas a Afro-brasileira, que terá sua sede na cidade de Redenção, no Ceará, recebendo alunos brasileiros e de países africanos de língua portuguesa. Citou ainda as 104 extensões universitárias criadas para levar o ensino superior ao interior do País e a formação de 170 mil pessoas que estão no Bolsa Família (programa Próximo Passo).

Blog do Planalto
Qinta-feira, 10 de setembro de 2009 às 15:45

Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Frei Betto

Michael Löwy.

Apesar de que existem divergências significativas entre os teólogos da libertação, na maioria de seus escritos encontramos repetidos os temas fundamentais que constituem uma saída radical da doutrina tradicional e estabelecida das Igrejas Católica e Protestante:
- Uma implacável acusação moral e social contra o capitalismo como sistema injusto e iníquo, como forma de pecado estrutural.
- O uso do instrumento marxista para compreender as causas da pobreza, as contradições do capitalismo e as formas da luta de classes.
- A opção preferencial a favor dos pobres e a solidariedade com sua luta de emancipação social.
- O desenvolvimento de comunidades cristãs de base entre os pobres como a nova forma da Igreja e como alternativa ao modo de vida individualista imposto pelo sistema capitalista.
- A luta contra a idolatria (não o ateísmo) como inimigo principal da religião, isto é, contra os novos ídolos da morte, adorados pelos novos faraós, pelos novos Césares e pelos novos Herodes: O consumismo, a riqueza, o poder, a segurança nacional, o Estado, os exércitos; em poucas palavras, "a civilização cristã ocidental".

Examinemos mais de perto os escritos de Leonardo Boff e de Frei Betto, cujas idéias contribuíram, sem dúvida, à formação da cultura político-religiosa do componente cristão do altermundismo.
O livro de Leonardo Boff - na época, membro da ordem franciscana - Jesus Cristo Libertador, (Petrópolis, Vozes, 1971), pode ser considerado como a primeira obra da Teologia da Libertação no Brasil. Essencialmente, trata-se de uma obra de exegese bíblica; porém um dos capítulos, possivelmente o mais inovador, intitulado "Cristologia desde América Latina", expressa o desejo de que a Igreja possa "participar de maneira crítica no arranque global de libertação que a sociedade sul-americana conhece hoje". Segundo Boff, a hermenêutica bíblica de seu livro está inspirada pela realidade latino-americana, o que dá como resultado "a primazia do elemento antropológico sobre o eclesiástico, do utópico sobre o efetivo, do crítico sobre o dogmático, do social sobre o pessoal e da ortopráxis sobre a ortodoxia"; aqui se anunciam alguns dos temas fundamentais da Teologia da Libertação [1].
Personagem carismático, com uma cultura e uma criatividade enormes, ao mesmo tempo místico franciscano e combatente social, Boff converteu-se no principal representante brasileiro dessa nova corrente teológica. Em seu primeiro livro já encontramos referências ao "Princípio Esperança", de Ernst Bloch, porém, progressivamente, no curso dos anos 70, os conceitos e temas marxistas cada vez mais aparecem em sua obra até converter-se em um dos componentes fundamentais de sua reflexão sobre as causas da pobreza e a prática da solidariedade com a luta dos pobres por sua libertação.
Rechaçando o argumento conservador que pretende julgar o marxismo pelas práticas históricas do chamado "socialismo real", Boff constata, não sem ironia, que da mesma forma como o Cristianismo não se identifica com os mecanismos da Santa Inquisição, o marxismo não tem porque se equiparar aos "socialismos" existentes, que "não representam uma alternativa desejável por conta de sua tirania burocrática e pelo sufocamento das liberdades individuais". O ideal socialista pode e deve assumir outras formas históricas [2]
Em 1981, Leonardo Boff publica o livro "Igreja, Carisma e Poder", uma reviravolta na história da Teologia da Libertação: por primeira vez desde a Reforma protestante, um sacerdote católico coloca em xeque, de maneira direta, a autoridade hierárquica da Igreja, seu estilo de poder romano-imperial, sua tradição de intolerância e dogmatismo - simbolizada durante vários séculos pela Inquisição, pela repressão de toda crítica vinda de baixo e o rechaço da liberdade de pensamento. Denuncia também a pretensão de infalibilidade da Igreja e o poder pessoal excessivo dos papas, que compara, não sem ironia, com o poder do secretário geral do Partido Comunista soviético.
Convocado pelo Vaticano em 1984 para um "colóquio" com a Santa Congregação para a Doutrina da Fé (antes, o Santo Ofício), dirigida pelo Cardenal Ratzinger, o teólogo brasileiro não abaixa a cabeça, nem nega retratar-se; permanece fiel a suas convicções e Roma o condena a um ano de "silencio obsequioso"; finalmente, frente à multiplicação dos protestos no Brasil e em outros lugares, a sansão foi reduzida em vários meses. Dez anos mais tarde, cansado das hostilidades, das proibições e das exclusões de Roma, Boff abandona a ordem dos franciscanos e a Igreja, sem, no entanto, abandonar sua atividade de teólogo católico.
A partir dos anos 90 do século passado, interessa-se cada vez mais pelas questões ecológicas que aborda com o espírito de amor místico e franciscano pela natureza e com uma perspectiva de crítica radical do sistema capitalista. Será o objeto do livro Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, (S. Paulo, Ática, 1995) e escreve inúmeros ensaios filosóficos, éticos e teológicos que abordam esta problemática. Segundo Leonardo Boff, o encontro entre a Teologia da Libertação e a ecologia é resultado de uma constatação: "A mesma lógica do sistema dominante de acumulação e da organização social que conduz à exploração dos trabalhadores, leva também à pilhagem de nações inteiras, e, finalmente, à degradação da natureza".
Portanto, a Teologia da Libertação aspira a uma ruptura com a lógica desse sistema, uma ruptura radical que aponta a "libertar os pobres, os oprimidos e os excluídos, as vítimas da voracidade da acumulação injustamente distribuída e libertar a Terra, essa grande vítima sacrificada pela pilhagem sistemática de seus recursos, que põe em risco o equilíbrio físico, químico e biológico do planeta como um todo". O paradigma opressão/libertação aplica-se, pois, para ambas: as classes dominadas e exploradas por um lado; e a Terra e suas espécies vivas, por outro [3].
Amigo próximo de Leonardo Boff (publicaram alguns livros juntos), Frei Betto é, sem dúvida, um dos mais importantes teólogos da libertação do Brasil e da América Latina e um dos principais animadores das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Dirigente nacional da Juventude Estudantil Católica (JEC) no início dos anos 60, Carlos Alberto Libânio Christo (seu nome verdadeiro) começou sua educação espiritual e política com Santiago Maritain, Emmanuel Mounier, o padre Lebret e o grande intelectual católico brasileiro Alceu Amoroso Lima, porém, durante sua atividade militante na União Nacional dos Estudantes (UNE), descobriu O Manifesto Comunista e A Ideologia Alemã. Quando entrou como noviço na ordem dos dominicanos, em 1965, naquela época um dos principias focos de elaboração de uma interpretação liberacionista do cristianismo, já havia tomado firmemente a resolução de consagrar-se à luta da revolução brasileira [4].
Impressionado com a pobreza do mundo e pela ditadura militar estabelecida em 1964, incorpora-se a uma rede de dominicanos que simpatizam ativamente com a resistência armada contra o regime. Quando a repressão se intensificou, em 1969, socorreu a inúmeros revolucionários, ajudando-os a esconder-se ou a cruzar a fronteira para o Uruguai ou para a Argentina. Essa atividade custou-lhe cinco anos de prisão, de 1969 a 1973.
Em um livro fascinante publicado no Brasil e reeditado mais de dez vezes, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella (Rio de Janeiro, Ed. Bertrand, 1987), traça o retrato do dirigente do principal grupo revolucionário armado, assassinado pela polícia em 1969, bem como o de seus amigos dominicanos presos nas rodas da repressão e destroçados pela tortura. O último capítulo está consagrado à trágica figura de Frei Tito de Alencar, tão cruelmente torturado pela polícia brasileira que jamais recobrou seu equilíbrio psíquico: libertado da prisão e exilado na França, sofreu uma aguda mania de perseguição e cometeu suicídio em 1974.
As Cartas da Prisão de Betto, publicadas em 1977, mostram seu interesse pelo pensamento de Marx, a quem designava, para burlar a censura política, "o filósofo alemão". Em uma carta de outubro de 1971 a uma amiga, abadesa beneditina, observava: "a teoria econômico-social do filósofo alemão não teria existido sem as escandalosas contradições sociais provocadas pelo liberalismo econômico, que o conduziram a percebê-las, analisá-las e estabelecer princípios capazes de sobrepô-los" [5].
Depois de sua libertação da prisão, em 1973, Frei Betto consagrou-se à organização das comunidades Eclesiais de base. Durante os anos seguintes publicou vários folhetos que, em linguagem simples e inteligível, explicavam o sentido da Teologia da Libertação e o papel das CEBs. Logo, converteu-se em um dos principais dirigentes dos encontros intereclesiais nacionais, onde as CEBs de todas as regiões do Brasil intercambiam suas experiências sociais, políticas e religiosas. Em 1980 organizou o 4º Congresso internacional dos Teólogos do Terceiro Mundo.
Desde 1979 Betto é responsável pela Pastoral Operária de São Bernardo do Campo, cidade industrial do subúrbio de São Paulo, onde nasceu o novo sindicalismo brasileiro. Sem vincular-se a nenhuma organização política, não escondia suas simpatias pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Após a vitória eleitoral do candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, em 2001, foi designado pelo novo presidente para dirigir o Programa "Fome Zero"; no entanto, descontente com a orientação econômica do governo, prisioneiro dos paradigmas neoliberais, demitiu-se de seu posto dois anos depois.
Enquanto alguns teólogos tentam reduzir o marxismo a uma "mediação sócio-analítica", Betto defende, em seu ensaio de 1986, Cristianismo e Marxismo, uma interpretação muito mais ampla da teoria marxista que inclui a ética e a utopia: "o marxismo é, sobretudo, uma teoria da práxis revolucionária (...). A prática revolucionária sobrepõe-se ao conceito e não se esgota na análise estritamente científica porque, necessariamente, inclui dimensões éticas, místicas e utópicas (...). Sem essa relação dialética teoria-práxis, o marxismo se esclerosa e se transforma em ortodoxia acadêmica perigosamente manipulável pelos que controlam os mecanismos do poder". Esta última frase é, sem dúvida, uma referencia crítica a URSS e aos países do socialismo real que constituem, em sua maneira de ver, uma experiência deformada por sua "ótica objetivista", sua "tendência economicista" e, sobretudo, por sua "metafísica do Estado".
Betto e Boff, como a imensa maioria dos teólogos da libertação, não aceitam a redução, tipicamente liberal, da religião a um "assunto privado" do indivíduo. Para eles, a religião é um assunto eminentemente público, social e político. Essa atitude não é necessariamente uma oposição à laicidade; de fato, o cristianismo da libertação situa-se nas antípodas do conservadorismo clerical:
- Predicando a separação total entre a Igreja e o Estado e a ruptura da cumplicidade tradicional entre o clero e os poderosos.
- Negando a idéia de um partido ou um sindicato católico e reconhecendo a necessária autonomia dos movimentos políticos e sociais populares.
- Rechaçando toda idéia de regresso ao "catolicismo político" pré-crítico e sua ilusão de uma "nova cristandade".
- Favorecendo a participação dos cristãos nos movimentos ou partidos populares seculares.

Para a Teologia da Libertação não existe contradição entre essa exigência de democracia moderna e secular e o compromisso dos cristãos no âmbito político. Trata-se de dois enfoques diferentes da relação entre religião e política: desde o ponto de vista institucional é imprescindível que prevaleça a separação e a autonomia; porém, no âmbito ético-político o imperativo essencial é o compromisso.
Levando em consideração essa orientação eminentemente prática e combativa, não é de se estranhar que muitos dos dirigentes e ativistas dos movimentos sociais mais importantes dos últimos anos - desde 1990 -, fossem formados na América Latina segundo as idéias da Teologia da libertação. Podemos dar como exemplo o MST, um dos movimentos mais impressionantes da história contemporânea do Brasil, por sua capacidade de mobilização, seu radicalismo, sua influência política e sua popularidade (além de ser uma das principais forças da organização do Fórum Social Mundial). A imensa maioria dos dirigentes ou ativistas do MST procedem das CEBs ou da Comissão Pastoral da Terra: sua formação religiosa, moral, social e, em certa medida, política, efetuou-se nas filas da "Igreja dos pobres". No entanto, desde sua origem, nos anos 70, o MST optou por ser um movimento leigo, secular e autônomo e independente com relação à Igreja. A imensa maioria de seus militantes é católica; porém, também há evangélicos e não crentes (poucos). A doutrina (socialista!) e a cultura do MST não fazem referência ao cristianismo; porém, podemos dizer que o estilo de militância, a fé na causa e a disposição ao sacrifício de seus membros, muitos têm sido vítimas de assassinatos e até de matanças coletivas durante os últimos anos, têm, provavelmente, fontes religiosas.
As correntes e os militantes cristãos que participam no movimento altermundista são muito diversos - ONGs, militantes dos sindicatos e partidos de esquerda, estruturas próximas à Igreja - e não partilham das mesmas escolhas políticas. Porém, a imensa maioria se reconhece nas grandes linhas da Teologia da Libertação, tal como a formularam Leonardo Boff, Frei Betto, Clodovis Boff, Hugo Assmann, José Comblin, Dom Tomás Balduino, Dom Helder Camara, Dom Pedro Casaldáliga, e tantos outros conhecidos e menos conhecidos, e partilham sua crítica ética e social do capitalismo e seu compromisso pela libertação dos pobres.

Michael Löwy
Sociólogo. É um dos principias investigadores do mundo sobre o marxismo latino-americano. Reside em Paris, onde é diretor de investigações no "Centre National de la Recherche Scientifique" (CNRS)

BIBLIOGRAFIA
Leonardo Boff, Jesus Christ Libérateur, Paris, Cerf, 1985.
L. Boff, Eglise, Charisme et Pouvoir, Bruxelles, Lieu Commun 1985.
L. Boff, O caminhar da Igreja com os oprimidos, Petrópolis, Vozes, 1988, 3a edição, prefacio de Darcy Ribeiro.
L. Boff, "Je m’explique" (entrevistas con C. Dutilleux), Paris, Desclée de Brouwer, 1994.
L. Boff, Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, S.Paulo, Ática, 1995.
L. Boff, "Libertação integra: do pobre e da terra", in A teologia da libertação. Balanço e Perspectivas, S.Paulo, Ática, 1996.
Fr. Fernando, Fr. Ivo, Fr. Betto, O canto na fogueira. Cartas de três dominicanos quando em cárcere político, Petrópolis, Vozes, 1977.
Frei Betto, Cristianismo e Marxismo, Petrópolis, Vozes, 1986.
Frei Betto, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella, Rio de Janeiro, Editora Bertrand, 1987.
Théologies de la libération. Documents et debats, Paris, Le Cerf, 1985.
Michael Löwy, La guerre des dieux. Religion et politique en Amerique Latine, Paris, Ed. du Felin, 1998.
NOTAS:
[1] L. Boff, Jesus Christ Libérateur, París, Cerf, 1985, pp. 51-55. Ibid. p. 275.
[2] L.Boff, "Libertação integra: do pobre et da terra", in A teologia da libertação. Balanço e Perspectivas, S.Paulo, Ática, 1996, pp. 115, 124-128.
[3] Entrevista de Frei Betto con el autor, 13-09-1988.
[4] Fr. Fernando, Fr. Ivo, Fr. Betto, O canto na fogueira. Cartas de três dominicanos quando em cárcere político, Petrópolis, Vozes, 1977, pp. 39 e 120.
[5] Frei Betto, Cristianismo e Marxismo, Petrópolis, Vozes, 1986, pp. 35-37.

Frases de Clarice Lispector

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever.

Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.

Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
(A Hora da Estrela)

Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.
in "Onde estivestes de noite" - 7ª Ed. - Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro – 1994

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
(Perto do Coração Selvagem)

Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.
(A paixão segundo G.H)

E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano.

Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.

...estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.

... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.

Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar.

... passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.

É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Porque há o direito ao grito,
então eu grito.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Mariinha - Aniversário - 08/09/09

Terça-feira passada Mariinha recebeu familiares e amigos para comemorar o seu aniversário no restaurante e pizzaria Skyllus, na Ilha do Leite.
Sentimos muito não termos podido comparecer, pois gostaríamos de ter abraçado nossa prima neste dia tão especial para ela.
Junto com as fotos da comemoração tiradas por Genival enviamos nossos parabéns e os votos de muitas felicidades para ela e todos os seus.
Um caloroso abraço:
Yone e Ricardo.












































FOTOS: Genival.

A justiça com 30 anos de atraso.

Por Tatiana Merlino
Revista "Caros amigos" - Ano XIII - n°149 - Agosto 2009

Após três décadas da promulgação da Lei de Anistia ela ainda serve de pretexto para que o Brasil não puna torturadores, não abra arquivos da ditadura e não entregue corpos das vítimas a seus familiares.

No ano em que se comemoram 30 anos da promulgação da Lei de Anistia, o Brasil pode estar perto de fazer um acerto de contas com seu passado. Ainda este ano, duas decisões importantes podem colocar fim ao impasse em relação à punição dos algozes da ditadura civil militar (1964-1985), a exemplo do que ocorreu nos países vizinhos. Até o final do ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá se pronunciar sobre o questionamento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em relação ao suposto benefício que a Lei de Anistia concede aos torturadores. O Brasil também é réu na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), no caso da Guerrilha do Araguaia, e corre o risco de ser condenado. O país é acusado de não investigar os desaparecimentos justamente devido à promulgação da Lei de Anistia, e de não fornecer informações sobre o episódio a familiares das vítimas. Se for condenado, será obrigado a investigar os crimes e a identificar e punir os responsáveis, reconhecendo que não cabe anistia ou prescrição a crimes contra a humanidade.

Até hoje, o país não chegou a uma posição definitiva em relação ao alcance da Lei da Anistia e à possível responsabilização dos crimes de tortura, desaparecimento e sequestro cometidos por agentes do Estado durante o regime militar.

Promulgada em 1979, a lei 6.683 anistiou aqueles que “no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes, crimes eleitorais”. Se, por um lado, a anistia permitiu que perseguidos políticos exilados voltassem ao país e que presos políticos fossem colocados em liberdade, por outro, a lei foi escrita com ambiguidades que sugeriam uma autoabsolvição antecipada do Estado de qualquer responsabilidade jurídica em relação a crimes cometidos por seus agentes. Tal interpretação, sustentada até hoje por setores que afirmam que a anistia foi recíproca, é duramente questionada por juristas que sustentam que a tortura, por exemplo, é crime de lesa-humanidade, e portanto, não é passível de indulto nem prescrição.

De acordo com Fábio Konder Comparato, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, tal tipo de anistia não pode ser admitida nem perante a ética, nem perante o Direito. “Ela é indecente. Primeiro, porque foi feita quando o Congresso Nacional ainda estava sob a pressão absoluta dos dirigentes militares, que, como condição para sair do poder, quiseram se absolver. Em segundo lugar, porque os criminosos do regime militar não foram identificados nem chamados publicamente a reconhecer seus crimes. O povo jamais foi consultado para dizer se aceitaria ou não essa absolvição geral e abstrata sem identificação dos criminosos”, critica.

Sob o aspecto jurídico, explica Comparato, a lei de 79 é incompatível com a Constituição de 1988, que estabelece que o crime de tortura é imprescritível e não passível de indulto. “É preciso entender que, juridicamente, quando uma nova Constituição cria um regime novo, as leis anteriores a ela só continuam em vigor se forem compatíveis com o novo regime”, defende.

Movimento de massa
A Lei de Anistia foi resultado do conjunto todas as lutas que aconteceram naquele momento. “Foi um movimento de massa que aglutinou todo o país, e que tinha forte apoio internacional. Internamente, havia grandes forças motrizes, como os movimentos de esquerda clandestina que criaram uma grande rede de imprensa de massa legal”, recorda o jornalista e escritor Alípio Freire, ex-preso político e militante da organização Ala Vermelha.

No Brasil e no exterior, foram formados comitês que reuniam filhos, mães, esposas e amigos de presos políticos para defender uma anistia ampla, geral e irrestrita. Em 1978, foi criado, no Rio de Janeiro, o Comitê Brasileiro pela Anistia, congregando várias entidades da sociedade civil. No entanto, por 206 votos contra 201, a anistia aprovada não foi tão ampla, geral e irrestrita como pretendiam seus defensores. Em 28 de agosto, o presidente João Baptista Figueiredo sancionou a Lei nº 6.683, de iniciativa do governo e aprovada pelo Congresso, concedendo indulto a todos os cidadãos punidos por atos de exceção desde 2 de setembro de 1961. Estudantes, professores e cientistas afastados das instituições de ensino e de pesquisa nos anos anteriores foram beneficiados, mas o reaproveitamento de servidores civis e militares ficou subordinado à decisão de comissões especiais criadas no âmbito dos respectivos ministérios para estudar cada caso. De acordo com a lei apro vada, também foram excluídos os condenados pela “prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal”. Ou seja, um artifício para não anistiar os participantes da luta armada. Aqueles que cometeram os chamados “crimes de sangue” ficaram presos por mais tempo e só saíram da cadeia em liberdade condicional.

Desde então, ex presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos vêm lutando pela “memória, verdade e justiça”. Desde a redemocratização do país, nenhum governo enfrentou seriamente a questão, e o ônus da luta tem ficado para as vítimas da ditadura e seus parentes. Em relação ao governo Lula, “embora ele esteja avançando por conta de iniciativas da Secretaria Especial de Direitos Humanos e posições de Tarso e Dilma, o PT nunca assumiu essa luta como sua enquanto partido. Desde a fundação do partido, isso nunca teve eco lá dentro, pelos interesses mais diversos, e apesar de muitos que estamos nele termos sido punidos pela ditadura”, critica Freire. “A questão teve eco em alguns setores quando houve reparação econômica, que tem que acontecer, mas junto com uma série de medidas”, diz, referindo-se à lei 10.559/02, sancionada durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que determina a indenização financeira.

De acordo com a ex-presa política Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, “são muitas as reivindicações que permanecem durante estes 30 anos, como a apuração dos crimes da ditadura. Não houve cobrança dos responsáveis pelos crimes de morte, assassinato, tortura, sequestro, ocultação de cadáver”.

Queda-de-braço
Dentro do governo Lula, há um embate no que se refere à interpretação da lei. De um lado, os defensores do perdão aos militares: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que declarou inúmeras vezes que a punição dos agentes do Estado que participaram de torturas durante a ditadura militar seria “revanchismo” e que a questão deveria ser esquecida; o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes; e o chefe da Advocacia Geral da União (AGU), José Antonio Dias Toffoli. Do outro lado, o ministro da Justiça, Tarso Genro, o da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, bem como importantes constitucionalistas do país e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), defendem que a tortura não pode ser considerada um delito político, mas caracterizada, sim como crime de lesa-humanidade imprescritível. Por diversas vezes, Vanucchi convocou as vítimas da repressão do regime militar, seus familiares e entidades de classe para se organizarem nos Estados através de ações judiciais em massa que questionem a abrangência da Lei de Anistia. Segundo ele, as autoridades da área ainda não parecem convencidas da justeza das reivindicações. “O Judiciário empurra a questão”. Esse comportamento, segundo o ministro, ajuda a explicar o fato de poucos parentes das vítimas terem recorrido à Justiça em busca de reparações e punições.

No Brasil, há apenas duas ações movidas nesse sentido. Numa decisão histórica, em outubro de 2008, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi declarado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo responsável pela tortura de três pessoas da mesma família durante o regime militar, na década de 1970. Foi julgado procedente o pedido de declaração de responsabilidade de Ustra pela tortura do casal de ex presos políticos Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, e César Augusto Teles. Também foi reconhecida a tortura a Criméia Schmidt de Almeida, irmã de Amelinha. Ustra comandou o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Internações-Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo entre 1970 e 1974, período de maior repressão política no país. A outra ação declaratória contra Ustra, movida pela família do jornalista Luiz Eduardo Merlino, assassinado em 1971 nas dependências do DOI-Codi, não teve o mesmo desfecho. A ação foi extinta no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), e os advogados da família recorreram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)

Justiça de transição
Além de não punir os torturadores, o Brasil também não cumpriu com outras demandas do que se chama de “Justiça de Transição”. Criado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, a Justiça de Transição prevê que os governos de países que passaram por um regime de exceção devem assumir quatro responsabilidades: acesso a informações e dados públicos para preservação da memória do período; reparação dos prejuízos sofridos por cidadãos que tiveram seus direitos lesados pelo Estado; julgamento e punição dos responsáveis por crimes contra a humanidade imprescritíveis e não passíveis de anistia; e promoção de mudanças nas instituições de segurança pública.

Dos quatro aspectos, o Brasil só enfrentou a questão da reparação. As maiores críticas ao processo de redemocratização do país se dirigem à manutenção dos arquivos do período militar sob sigilo e à não apuração de crimes contra os direitos humanos. “Até hoje, as Forças Armadas nunca abriram os arquivos. O acerto de contas não é só com as vítimas, é também um compromisso com a democracia para que nunca mais aconteça novamente”, explica a cientista política Glenda Mezarobba, pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Unicamp e autora do livro Um acerto de contas com o futuro: a anistia e suas consequências. Segundo ela, “mesmo dentro das reparações, o Brasil apenas o fez pelo aspecto econômico. Há ainda o plano simbólico, como pedidos oficiais de perdão e constituição de museus e monumentos.”

Para a pesquisadora, ao não julgar e processar os violadores dos direitos humanos, o Brasil perde a oportunidade de sinalizar que na democracia tais crimes não seriam tolerados. “Perde a chance de deslegitimar aquela ideologia autoritária. O Brasil ainda não se dedicou à questão da justiça, mas não significa que não possa se dedicar. Não há um prazo de validade, especialmente em relação a crimes contra a humanidade como a tortura.”

País da conciliação
O atraso do Brasil em relação aos vizinhos que revogaram suas leis de anistia e estão colocando os torturadores no banco dos réus pode ser explicado por um espírito conciliatório da sociedade brasileira. “Nós temos uma tradição que remonta à nossa origem portuguesa. Se a gente comparar o comportamento de Portugal e da Espanha, vamos ver que os espanhóis radicalizam muito em todos os sentidos, ao passo que o português é normalmente conciliador”, analisa o jurista e professor aposentado Dalmo Dallari, professor emérito da Faculdade de Direito da USP.

Comparato concorda: “No Brasil, tudo termina em conciliação. Essa é a palavra chave na política brasileira. Nos outros países, os grandes conflitos se resolvem violentamente”. Para ele, o fato da reparação no Brasil ter se restringido à questão econômica é sintomático desse espírito. “Foi para que todo mundo se contentasse com isso e não exigisse o esclarecimento da anistia dos torturadores. Acontece que não pode haver conciliação com a indignidade. Isso é degradante. Nesse sentido, estamos lutando para que haja uma decisão judicial. A lei não pode permanecer como está, é preciso uma decisão do judiciário que ponha fim a essa confusão”.

O jurista refere-se à ação (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF) protocolada em outubro de 2008 pela OAB junto ao Supremo Tribunal Federal. Nela, a entidade questiona a anistia aos representantes do Estado (policiais e militares) que, durante o regime militar, praticaram atos de tortura. A ADPF contesta a validade do primeiro artigo da Lei da Anistia, que considera como conexos e igualmente perdoados os crimes “de qualquer natureza” relacionados aos crimes políticos ou praticados por motivação política no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. A OAB pede ao Supremo uma interpretação mais clara desse trecho da lei, de forma que a anistia concedida aos autores de crimes políticos e seus conexos (de qualquer natureza) não se estenda aos crimes comuns praticados por agentes públicos acusados de homicídio, desaparecimento forçado, abuso de autoridade, lesões corporais, estupro e atentado violento ao pudor contra opositores. Na ação, a OAB reforçou o pedido – já feito em outras ações – para que seja revelada a identidade dos militares e policiais responsáveis por crimes em nome do Estado, dizendo ser um “escárnio” acobertar a identidade dessas pessoas sob o pretexto da segurança da sociedade e do Estado.

Por outro lado, em fevereiro deste ano, a Advocacia Geral da União (AGU), enviou aos ministros do STF um parecer em que destaca que a Lei de Anistia foi “ampla, geral e irrestrita”, perdoando todos os crimes “de qualquer natureza”. Caso prevaleça no plenário do STF a tese de que o indulto não abrangeu os crimes de tortura, o Estado brasileiro terá o dever de ajuizar ações penais visando a punição daqueles que torturaram no Brasil. “Mas, se o STF achar que a Lei de Anistia se estende aos criminosos do regime militar, será uma ofensa grave ao sistema americano de direitos humanos”, alerta Comparato. O relator da ação sobre o alcance da Lei de Anistia no Supremo é o ministro Eros Grau, e o processo deve ser levado a plenário ainda este ano.

No banco dos réus
O Brasil também pode ser obrigado a responsabilizar criminalmente os torturadores e assassinos do regime militar pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA no caso da Guerrilha do Araguaia, em que tropas militares dizimaram um grupo de militantes no interior do Pará. Por indicação da entidade, o governo brasileiro responderá a processo por detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, entre membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses da região do Araguaia, entre 1971 e 1975. Conforme a denúncia da comissão, o Brasil, embora notificado desde outubro do ano passado, não avançou na localização dos corpos. A notificação exigia que o governo adotasse medidas para identificar os responsáveis por esses desaparecimentos e para impedir que a Lei de Anistia prejudique o andamento dos processos na Justiça.

De acordo com a cientista social Beatriz Affonso, diretora do Cejil (Centro pela Justiça e o Direito Internacional), uma das organizações que ingressou com a ação na OEA, um dos eixos do processo é o questionamento da interpretação da lei de anistia. “Não estamos pedindo que se revogue. Entendemos que ela anistiou os civis que estavam resistindo à ditadura militar”, explica. “O que pedimos é que ela determine que a Lei de Anistia não possa ser um obstáculo para investigar, processar e responsabilizar agentes públicos ou privados que, em nome da ditadura, tenham violado direitos humanos.” Segundo ela, caso a Corte condene o Brasil, será muito constrangedor para o país perante a comunidade internacional. Para a diretora do Cejil, é um “vexame” o caso ter que ser levado a organismos internacionais, mas ressalta que é necessário, pois a “sociedade tem direito de saber o que aconteceu. Isso não é esquerdismo, revanchismo”, diz, referindo-se a uma declaração do ministro da Defesa.

A posição de Jobim irritou juristas e defensores de direitos humanos. “Quando ele disse que esses fatos devem ser esquecidos, fiquei em dúvida. Já não sei se o chamo de jurista, advogado ou coronel Nelson Jobim, porque ele repetiu o que os coronéis dizem. É vergonhoso ouvir isso de alguém da área jurídica. Acho que ele deveria refazer seu curso de Direito”. ironiza Dallari

A despeito disso, foi o próprio Ministério da Defesa que criou, com apoio técnico do Exército, uma comissão para buscar os restos mortais de guerrilheiros desaparecidos no Araguaia. Mas o Ministério Público Federal e a Secretaria Especial de Direitos Humanos não foram convidados a integrar o grupo de trabalho e acompanhar as buscas, nem a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, criada por meio da lei 9.140, de 1995, pelo próprio Jobim, quando era ministro da Justiça do governo FHC.

Busca sem familiares
Dias após o ministro Jobim afirmar que os parentes das vítimas não teriam acesso à área das escavações por serem parte interessada no caso, os familiares das vitimas divulgaram uma carta na qual diziam: “Assistimos, estarrecidos, a ida de uma caravana essencialmente militar, sem a presença dos familiares, sem a participação da Comissão Especial para Mortos e Desaparecidos, sem a presença da Secretaria Especial de Direitos Humanos”, diz o documento, que ainda afirma: “O Exército, que ora coordena as buscas, levou anos para reconhecer oficialmente a existência da Guerrilha do Araguaia e a participação de seus integrantes nos combates, sem nunca ter assumido as prisões, torturas, assassinatos e desaparecimentos. O Exército e muitas das instituições vinculadas à União sempre afirmaram que a guerrilha não existiu e negam até hoje a existência de arquivos, sem ter a decência e qualquer sentimento de humanidade para apontar onde foram parar as informações de que dispunham as Três Forças em 1993.”

A comissão atende a uma decisão judicial de 2003 que determinou que o Estado brasileiro desse respostas sobre o assunto. A sentença da Justiça Federal, proferida pela juíza Solange Salgado, ordenou a quebra do sigilo das informações militares sobre todas as operações de combate aos guerrilheiros e que a União informe onde estão sepultados os mortos no episódio. Na tentativa de apaziguar os ânimos, dias depois, o presidente Lula resolveu incluir uma representante dos familiares de mortos e desaparecidos no comitê de buscas das ossadas. “Essa participação é um tanto quanto secundária, porque quem vai tomar a iniciativa, elaborar estratégias e realizar as buscas é o Exército, que matou os guerrilheiros. E quem está comandando é o ministro da Defesa. Portanto, não há interesse em apurar as circunstâncias e resolver a situação”, critica a ex-presa política Amelinha. Para ela, à medida em que não se faz uma busca de uma forma digna e articulada com a sociedade, a violação de direitos humanos permanece.

As perspectivas de Amelinha em relação ao trabalho da comissão são ruins. Uma de suas preocupações é em relação à destruição de provas e vestígios, “que já estão prejudicados com o decorrer dos anos, e que podem ser ainda mais destruídos”, explica. “O Estado não respeita sua própria decisão, que é de localizar e entregar os corpos. Esta foi proferida em 2003, e o governo tentou de todas as formas entrar com recursos, mas foi derrotado em 2007. Então faz dois anos que o governo não cumpre a decisão do Estado que ele representa”. Para a militante de direitos humanos, o Estado brasileiro só criou uma comissão para buscar os restos mortais no Araguaia porque está sendo processado na OEA. E, destacando a exceção do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, ela considera que, “por parte do governo, só há desprezo”.

O exemplo dos vizinhos
De todos os países da América Latina que passaram por ditaduras militares, o Brasil é o mais atrasado no que se refere ao resgate da memória e responsabilização dos crimes cometidos por agentes do Estado. Argentina, Uruguai, Chile e Peru lidaram com o que se chama de Justiça de Transição. Na Argentina, em 2005, a Suprema Corte julgou a inconstitucionalidade das leis de Ponto Final e Obediência Devida, que impediam processos contra militares por envolvimento na repressão contra a ditadura. Desde a revogação, torturadores e comandantes militares têm sido julgados e condenados. Durante o mandato do ex presidente Néstor Kirchner (2003- 2007), a Justiça reabriu vários processos. Em outubro de 2007, um tribunal condenou à prisão perpétua o ex capelão da igreja católica, Christian Von Wernich, acusado de “crimes de lesa-humanidade, por genocídio” durante a ditadura. Entre os julgados, também estão incluídos os ex ditadores Jorge Rafael Videla e Reynaldo Bignone, ambos em prisão domiciliar.

No Chile, a lei de anistia foi revogada por decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, e o ex chefe da Dina (a polícia política chilena), Manuel Contreras, foi preso pelos crimes que cometeu na ditadura. Apesar de inúmeras tentativas de processar o ditador Augusto Pinochet, este só foi preso quando o juiz espanhol Baltasar Garzón abriu um processo contra ele pelos crimes de genocídio, terrorismo e tortura. Pinochet foi preso em Londres, onde permaneceu 503 dias em prisão domiciliar. Morreu em 2006, e foi sepultado sem honras de Estado.

No Peru, uma lei de anistia criada em 1995, período democrático para indultar crimes de agentes do Estado cometidos após o fim da ditadura, em 1980, também foi abolida por sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Barrios Altos, referente à morte de 15 pessoas por um esquadrão da morte ligado ao Exército peruano, em 1991. A sentença da Corte considerou o Estado peruano responsável pela violação do direito à vida e à integridade pessoal derivada do massacre, assim como por haver anistiado tais delitos.

Outra iniciativa importante foi a criação, em países como Uruguai, Peru, Argentina e Chile, de Comissões Oficiais de Verdade. Para emitir a ordem de prisão ao ex ditador Augusto Pinochet, pela morte e tortura de cidadãos espanhóis, Garzón utilizou o relatório da Comissão Chilena da Verdade, que funcionou de 1990 a 1991.

Em março de 2008, 24 oficiais e suboficiais da polícia política da ditadura de Pinochet foram condenados por crimes de sequestro, homicídio e tortura de 31 militantes de esquerda.