sábado, 7 de novembro de 2009

Nova fronteira a leste

Editorial publicado no Jornal do Comércio, em 07.11.2009.
Caderno Brasil - Pag. 14.


O Brasil vive, com reconhecimento nacional e internacional, um momento decisivo de sua história: boa reserva de divisas, comércio internacional crescentemente equilibrado, contas internas razoavelmente controladas, perspectiva sólida de tornar-se um grande exportador de petróleo e de passar, em alguns anos, a quinta economia do mundo. Só estes fatos bastam para comprovar o que estamos constatando. Falta agora reformar seu modo ronceiro e atrasado de fazer política, para atingir a modernidade e a contemporaneidade com o mundo desenvolvido e civilizado.
Dentro desse panorama de otimismo realista, nossa política externa também tem evoluído positivamente na busca de novas parcerias comerciais e culturais, intensificando seu trabalho junto a países emergentes e pobres. A oposição mais ranzinza afirma que o nosso País está abandonando antigas alianças e clientes comerciais tradicionais e trocando-os por intercâmbio e negócios com países que não nos trariam a rentabilidade que desejamos. Isso não é verdade, pois o Itamaraty e o nosso governo de um modo geral não afrouxaram nem um instante os velhos laços com a Europa, os Estados Unidos, o Japão.

A queixa atual lembra idênticas críticas quando o breve presidente Jânio Quadros lançou sua chamada “política externa independente”, continuada por seu sucessor João Goulart (Jango) e, anos mais tarde, paradoxalmente, pelo general-presidente Ernesto Geisel, integrado ao golpe militar que derrubara Jango dez anos antes. Coincide com aquelas tentativas a libertação do Itamaraty do culto a fraques e black-ties, com maior engajamento dos nossos diplomatas na aprendizagem e exercício da guerra comercial, praticada desde sempre pelos ministérios de relações exteriores dos países desenvolvidos. A partir daquelas iniciativas, retomadas no limiar do século 21, é que começaram a se apagar os resquícios de uma política de colonizados a que estávamos acostumados, mesmo após o Sete de Setembro.

Fizemos essa introdução antes de traçar algumas considerações a respeito da nova fronteira econômica que se abre para o Brasil em Angola. Em 1975, o nosso País foi o primeiro a reconhecer a independência da ex-colônia portuguesa, apesar de Geisel não ter nada em comum, nem com a Revolução dos Cravos (que dera fim à ditadura salazarista em Portugal) nem com o regime comunista que se instalava em Luanda. Pragmático, ele anteviu as possibilidades brasileiras em um novo país que nascia, lusófono e carente de tudo, e não se abalou nem quando Cuba enviou um contingente militar à África para defender o governo angolano contra os guerrilheiros de direita de Jonas Savimbi.

Hoje, a Petrobras está explorando petróleo no enclave de Cabinda, a Odebrecht constrói no país obras de infraestrutura, e inúmeras outras empresas brasileiras ali se instalam, num país totalmente carente de tecnologia e arrasado por quase 30 anos de guerra civil. Recentemente, a Fecomércio pernambucana enviou uma missão empresarial a Angola. Seu presidente Josias Albuquerque e demais integrantes mantiveram contatos com ministros e outros membros do governo local, que pediram a ajuda brasileira na reconstrução do comércio daquele país. São quase 20 milhões de consumidores, mas a atividade foi desmantelada, primeiro pela guerra colonial e depois por lutas intestinas. A formação de mão de obra é outra carência a que o Brasil pode responder.

Também professores brasileiros serão importados por Luanda, juntamente com livros didáticos. Sobretudo na área de informática. Professores da UFPE e técnicos do Porto Digital acompanharam a missão da Fecomércio. Angola já tem mais de dez escolas superiores, mas, como em outras áreas, as deficiências nessa são grandes. E não se trata apenas desse país. Grupos e tecnologia brasileiros estão presentes em outras ex-colônias lusas e outros países africanos, em países vizinhos da América do Sul e por toda parte. A missão pernambucana visitou ainda Pretoria e Joanesburgo, na África do Sul. Pernambuco e o Brasil têm de desbravar essa nova fronteira que se abre.

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