sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dossiê falso disseminado por Mainardi

Atualizado em 25 de setembro de 2009 às 15:44 | Publicado em 25 de setembro de 2009 às 14:39

por Luiz Carlos Azenha

Frequentemente nós, blogueiros, publicamos comentários sem nos dar conta de que há muitos leitores novos na internet. Gente que está chegando agora e que não entende as críticas que fazemos à mídia corporativa.

Por isso, perdoem-me os iniciados. Vou começar do começo. Foi o blogueiro Luís Nassif quem, com sua série sobre os bastidores da revista Veja, deu um passo importante para demonstrar o uso que se faz de dossiês para o chamado assassinato de reputações no Brasil.

Esses dossiês visam derrubar alguma autoridade ou defender algum interesse político e econômico inicialmente obscuro.

Para ler a série acesse o blog do Nassif:
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/02/18/

Os dossiês são montados com meias-verdades, ilações e boatos. Ganham as páginas de jornais e revistas ancorados em suposições e acompanhados de uma saraivada de "supostos", "possíveis" e "prováveis".

Os jornalistas fazem o papel de "mão do gato". Os interesses por trás dos dossiês são escondidos do público. Fica parecendo tratar-se de uma denúncia jornalística, quando se trata na verdade de um assassinato de reputação.

O mais recente dossiê divulgado pela mídia foi acolhido pelo colunista Diogo Mainardi, da revista Veja. E ganhou repercussão via Ali Kamel, por mais de um dia, no Jornal Nacional.

Ambos -- Mainardi e Kamel -- deram pernas à falsificação, que está sendo investigada pela Polícia Federal.

Para entender melhor, leiam a nota publicada pelo portal Vermelho:
http://www.vermelho.org.br/

PF descobre quem foi que tramou com a Veja os ataques a Martins

O agente federal aposentado Wilson Ferreira Pinna, lotado na Agência Nacional de Petróleo (ANP), foi apontado pela Polícia Federal como o autor do falso dossiê contra o diretor do órgão, Victor de Souza Martins, irmão do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. O dossiê falsificado foi usado pela revista Veja para atacar a ANP e o ministro.

O material falsificado acusava Victor de Souza de aumentar os royalties das prefeituras que contratavam a empresa Análise Consultoria, que ele tem em sociedade com a mulher, Joseana Seabra. Pinna foi denunciado na 2ª Vara Federal Criminal do Rio pelos crimes de interceptação telefônica ilegal e quebra de sigilo fiscal dos irmãos de Vitor, inclusive do ministro.

Após a revista "Veja" divulgar o dossiê em abril, primeiramente através da coluna de Diogo Mainardi e posteriormente em matérias da própria revista, o Ministério Público Federal constatou que o documento não estava no inquérito da Delegacia Fazendária, que apura corrupção nos repasses de royalties. A inexistência do dossiê levou o superintendente da PF no Rio, Angelo Gioia, a abrir novo inquérito.

Em maio, a PF descobriu um pendrive com o falso dossiê, as declarações de renda obtidas ilegalmente e as transcrições de gravações telefônicas. Não se sabe ainda qual jornalsita da revista Veja recebeu o pendrive, mas os policiais identificaram Pinna como o autor.

Por meio de representação à juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal, onde tramita o inquérito, foi pedida a prisão do agente, além de busca e apreensão na sua casa e na ANP.

O pedido foi para as mãos do juiz Rodolfo Kronemberg Hartmann, da 2ª Vara Federal, que não analisou o caso, provocando um conflito de competência. Tudo parou até 15 de julho, quando o Tribunal Regional Federal (TRF) decidiu que a competência é da 2ª Vara. Após negar pedido de prisão, Hartmann intimou Pinna a apresentar sua defesa, antes de decidir se aceita a denúncia.

Ontem, procurado pelo Estado, Pinna reclamou da divulgação do caso por conta do segredo de Justiça e depois se apegou na rejeição do pedido de prisão para se defender. Vitor repetiu o que falou na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados: "Quero justiça, saber quem fez essa investigação criminosa, a mando de quem, quem pagou e com qual objetivo."

Em seu blog, o jornalista Luís Nassif afirma que a lógica deste novo episódio do dissiê contra Martins é a mesma que descreve na série de matérias que desmascaram a revista Veja, especialmente no capítulo “O Lobista de Dantas”. "Primeiro, o lobista passa o dossiê para Diogo Mainardi. Ele escreve, Veja garante o espaço. Não é uma ou duas vezes, é mais que isso, é sistemático", denuncia Nassif.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo

Aqui, a nota mais recente do blog do Nassif sobre o episódio:

25/09/2009 - 11:14

As investigações sobre o dossiê falso

Algumas informações sobre a operação criminosa do dossiê falso sobre a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

1. Há meses, a mídia tem material das investigações sobre Wilson Ferreira Pinna, o araponga que produziu o falso dossiê contra Vitor Martins.

2. Só ontem o Estadão deu, com pouco destaque, e tratando Vitor Martins como Vitor Souza. No período das acusações, insistiu-se no sobrenome Martins. Seu nome é Vitor de Souza Martins.

3. Na matéria da Folha, Márcio Aith desinforma os leitores ao dizer que Pinna era homem de confiança do presidente da ANP Haroldo Lima. Ontem mesmo, Stanley Burburinho já tinha constatado que sua indicação se deu na gestão David Zilberstein. Essa informação é corrente na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, presumível fonte dos jornalistas sobre o tema.

4. A proposta de contratação de Pinna foi feito por Luiz Augusto Horta Nogueira em 2002.

5. Na Superintendência da PF do Rio há suspeitas fundadas de que Pinna tinha alguém acima dele controlando as operações. As suspeitas recaem sobre Jorge José de Araújo Freitas, chefe do Setor de Inteligência da ANP.

6. Ontem, a ANP se declarou surpresa com as notícias. Se for verdade, se o presidente Haroldo Lima não havia sido informado por Freitas, o enigma estará decifrado. Há tempos, Freitas já havia procurado a Superintendência da PF no Rio, mostrando-se informado sobre as investigações.

7. Quem ouviu o conteúdo dos grampos de Pinna diz que não tem uma informação relevante. Foram divulgados apenas para criar o ar de ameaça às vítimas.

8. Não existe sigilo de fonte para acobertar operações criminosas. Veja e seu parajornalista terão que informar o nome da fonte que repassou o dossiê, sob pena de se tornarem cúmplices de um crime.

PS – Recebo telefonema de Marcelo Auler informando que possuía as informações sobre as investigações desde maio. Informou o Estadão e pediu para segurar, para não comprometer as investigações. E o Estadão atendeu às suas ponderações. Uma lufada de jornalismo, que honra a tradição da casa.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/para-entender-o-dossie-falso-disseminado-por-mainardi/

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